O encontro entre Alanis Morissette e Laura Pausini, em Roma, no palco do Auditorium Parco della Musica em 24 de julho de 2025, marcou a execução de um clássico noventista e a sobreposição de trajetórias que atravessam diferentes geografias da música popular.
“Ironic”, de 1995, peça central do álbum Jagged Little Pill, encontrou eco em uma interpretação bilíngue e híbrida, na qual a voz confessional de Alanis se fundiu ao timbre mediterrâneo de Laura, deslocando a canção de sua origem para uma zona de convergência entre culturas.
O que emergiu foi menos um dueto no sentido convencional e mais um diálogo performático, mesmo que por poucos instantes. A alternância de versos e a confluência nos refrões deram à canção um caráter quase litúrgico, em que o público romano se viu diante de uma tradução viva da globalização afetiva da música. O gesto de Alanis, ao abrir espaço para Laura em um de seus maiores símbolos, rompeu fronteiras de propriedade estética e expôs a canção como território compartilhado.
Nesse espaço ritual, “Ironic” deixou de ser apenas um hino de uma geração para se tornar metáfora da impermanência, atravessada por idiomas e timbres. A Roma de 2025 foi palco de uma espécie de arqueologia do pop: revisitar a canção de 30 anos atrás e devolvê-la à plateia não como relíquia, mas como reinvenção.
O instante performático, nesse sentido, não buscou nostalgia, mas deslocamento do que resta quando a canção já não é só da artista, mas do mundo que a recria.