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Música da noite: romance à queima-roupa com neon, laquê e feedback
Ramones vestem smoking emocional com a polaroid do afeto selvagem em catedrais de ruído e ternura.
Por LockDJ
Publicado em 19/09/2025 18:55 • Atualizado 19/09/2025 18:55
Música
"Baby, I Love You" é uma love song granulada para punks com o coração em 4/4 (Foto: Divulgação)

“Baby, I Love You” é o instante em que o Ramones tira o jaquetão de couro, coloca um smoking emocional e entra no salão de baile de Phil Spector. Cordas derramadas, tímpanos brilhando, parede de som como vitral pop, e, no centro, Joey, cantando com uma devoção torta que não pede licença ao purismo punk.


É cover de girl group, sim, mas soa como confissão noturna numa esquina do Queens: romântica, deslocada, perigosamente sincera.

A mágica está no atrito. De um lado, a ética três-acordes, os tênis gastos, o metrônomo de um coração que bate em 4/4. Do outro, a opulência quase barroca do produtor que transforma refrões em catedrais. A faixa respira nesse entre-lugar: não é rendição, é apropriação; os punks revisitando o DNA do pop americano e devolvendo-o com cicatrizes novas, como se o amor precisasse de ruído para fazer sentido.

O resultado envelheceu como foto Polaroid: granulado, quente, levemente fantasmagórico. “Baby, I Love You” não é só “a balada do Ramones”; é um gesto de arqueologia afetiva que prova que ternura também pode ser radical. Uma canção para dançar de olhos fechados, encostar a cabeça no amplificador e aceitar que, às vezes, a maior transgressão é dizer “eu te amo” sem ironia.

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