“Meio Fio” soa como bilhete deixado na calçada. É uma Rita flanando na borda da cidade e da própria persona, equilibrando deselegância cool e poesia de esquina. Não há passarela, só concreto quente, buzina, farol amarelo, e ela atravessa tudo de salto, zombando do trânsito emocional.
A canção vira um clamor de quem prefere a margem, onde o vento bagunça o cabelo e a regra é arriscar antes que o tédio engula a noite.
Há guitarras que brilham como vitrine de brechó e um pulso que lembra o coração ligeiro de quem perdeu o último ônibus e decidiu seguir a pé. Rita não pede licença ao cânone, ela recicla ironia, cola glitter no ruído, mistura romance surrado com neon gasto. O “meio-fio” vira metáfora de fronteira, entre o pop e o punk de boutique, entre o amor e o dessabor, entre a rua que morde e a vontade de dançar mesmo assim.
E quando a faixa termina, fica aquela sensação de tênis sujo de cidade grande e sorriso cúmplice de quem aprendeu a sobreviver nos deslocamentos. “Meio Fio” rabisca o tom de chegada e mantém o equilíbrio na travessia. Rita, ourives do desbunde, lapida o banal até ficar precioso, e nos lembra que, às vezes, o melhor palco é a beirada do mundo.