24 de setembro, Dia Mundial do Gorila. O rei sobe o arranha-céu outra vez. Do stop-motion hipnótico de 1933 (Apple TV/Amazon) ao romance industrial de 1976 e ao espetáculo de 2005, de Peter Jackson (Prime Video/Netflix), King Kong revela como a sétima arte aprendeu a ver o monstro e a sentir por ele.
São três eras, um mesmo colosso, e um espelho da evolução técnica e ética do cinema. Uma trajetória que resume 90 anos de tecnologia, linguagem e sensibilidade na telona.
1933 — O nascimento do mito (Cooper & Schoedsack)
O original da RKO é um marco absoluto. Mistura live-action com stop-motion de Willis O’Brien, trilha de Max Steiner e imagética que moldou todo o cinema de monstros. Da criatura no topo do Empire State ao refrão trágico “Foi a beleza que matou a fera”.
Além de inaugurar uma linguagem de efeitos (matte painting, rear projection, miniaturas), o filme consagrou Fay Wray e entrou no National Film Registry.
Onde ver (BR, hoje): aluguel/compra em Apple TV e Amazon.
1976 — A releitura setentista (John Guillermin)
Produzido por Dino De Laurentiis, o remake troca a equipe de cinema por uma petrolífera em plena crise do petróleo e desloca o clímax para as Torres Gêmeas, um cartão-postal da modernidade da época. Rick Baker veste a criatura (com efeitos mecânicos de Carlo Rambaldi), Jessica Lange estreia, e John Barry assina a trilha. O tom flerta com o romance absurdo e o espetáculo industrial do período.
Onde ver (BR, hoje): disponível em Oldflix e Claro tv+ (catálogo brasileiro).
2005 — O épico romântico de Peter Jackson
Depois de O Senhor dos Anéis, Peter Jackson faz um tributo grandioso ao original. Três horas de aventura clássica, melodrama assumido e VFX de ponta da Weta Digital, combinando performance capture de Andy Serkis com animação de chaveamento. O resultado foi um Kong gestual e emotivo, com 4 milhões de pelos simulados.
Onde ver (BR, hoje): Netflix e Prime Video.
Três Kongs, três leituras
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Tecnologia: 1933 inventa gramática (stop-motion) e prova que efeitos contam histórias; 1976 aposta no animatrônico/suitmation e no set piece urbano das WTC; 2005 consolida a captura de performance como atuação de pleno direito.
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Contexto: 1933 é escapismo da Depressão; 1976 respira petróleo, mídia e espetáculo; 2005 revê o passado com sensibilidade pós-LOTR, escala épica e romantismo trágico.
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A fera: de símbolo do “exótico” dominado (1933) a vítima da ganância corporativa (1976) e, por fim, a criatura senciente e empática (2005), cuja queda comove porque agora a gente lê a alma nos olhos.
Por que isso importa no Dia Mundial do Gorila
A data (24 de setembro) marca a fundação do Karisoke Research Center (1967), de Dian Fossey, e chama atenção para conservação e ética no contato com grandes primatas, parentes próximos, vulneráveis a doenças humanas e à perda de habitat. O arco de Kong reflete essa mudança: do “monstro” ao ser que exige cuidado.
Veredicto crítico (curto e grosso)
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1933: essencial. Cinema puro, impacto histórico gigantesco.
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1976: documento de época. Kitsch elegante, ideia forte (WTC/óleo), efeitos irregulares, mas carisma pop.
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2005: o mais afetivo. Espetáculo técnico com coração, capaz de fazer o mito respirar no século XXI.
Pista final para maratonar hoje: se quiser entender como a ética e a técnica mudaram nossa relação com gorilas (e com monstros), veja 1933 → 1976 → 2005 nessa ordem. Depois, leia um pouco sobre o Karisoke e por que o turismo responsável importa.