Neste domingo, 5 de outubro de 2025, completam-se 14 anos sem Steve Jobs. A data, ano após ano, reacende o debate sobre sua influência duradoura na indústria da música e, em sentido mais amplo, na tecnologia e cultura digital.
Em 2003, quando a pirataria corroía o mercado fonográfico, Jobs emplacou uma mudança de paradigma. A iTunes Music Store padronizou o download pago, simplificou a compra em 1 clique e integrou catálogo, software e hardware com o iPod, vendendo faixas por US$ 0,99 e oferecendo uma experiência legal, simples e massiva de consumo musical. Foi o momento em que o comércio digital de música ganhou uma infraestrutura viável e um público de massa. Uma virada histórica que reorganizou a economia dos singles e abriu caminho para a fase seguinte do ecossistema (o streaming) alguns anos depois.
A morte de Jobs em 5 de outubro de 2011, anunciada pela diretoria da Apple, cristalizou a imagem do empreendedor que uniu design, engenharia e narrativa para transformar mercados inteiros. A transformação ocorreu do computador pessoal ao telefone, do tablet ao varejo (com as Apple Stores), além de ter sido peça-chave na consolidação da Pixar no cinema de animação, movimento selado pela aquisição da Disney em 2006.
No recorte específico da música, a contribuição de Jobs foi sobretudo comercial e de experiência. Ele não inventou o mp3, mas costurou acordos com grandes gravadoras, definiu um padrão de usabilidade e criou o ecossistema que reconcilia a indústria com o digital. O streaming, que viria a remodelar ainda mais o setor na década seguinte, foi liderado por outros atores; porém, a base cultural, a ideia de que música digital pode ser fácil, legal e onipresente, foi consolidada com iPod + iTunes.
Para quem quer revisitar a figura de Jobs, há retratos ficcionais e documentais complementares. Entre os filmes biográficos, estão Steve Jobs (2015), dirigido por Danny Boyle e estrelado por Michael Fassbender e Kate Winslet, e Jobs (2013), com Ashton Kutcher (ambos disponíveis para assinantes da Prime Video. Já no campo dos documentários, vale ver Steve Jobs: The Man in the Machine (Alex Gibney), um olhar crítico e sem verniz sobre o legado e as contradições do executivo; Steve Jobs: One Last Thing (PBS), que compila depoimentos de parceiros e rivais; e Steve Jobs: The Lost Interview (a longa entrevista de 1995, quando ele ainda estava na NeXT), todos circulando em plataformas como Prime Video/Netflix, com disponibilidade variável conforme o país.

Ashton Kutcher viveu Steve Jobs no cinema (Foto: Divulgação)
Quatorze anos depois, a síntese talvez seja a de que Jobs legou uma gramática de produto (menos botões, mais intenção), uma economia de ecossistemas (hardware + software + loja) e um imaginário em que tecnologia, cultura pop e negócios se alimentam mutuamente. No caso da música, ele não se contentou em vender aparelhos, mas, sim, uma forma de escutar, seja portátil, conectada e fluida, que redefiniu hábitos e reposicionou toda a cadeia de valor. E é por isso que, enquanto novas plataformas surgem e velhos formatos voltam em ondas nostálgicas, a assinatura de Jobs permanece reconhecível. É praticamente unificada a ideia de que uma boa experiência pode, sozinha, mudar o mercado inteiro.
“O mundo está incomensuravelmente melhor por causa de Steve”, escreveu a Apple ao anunciar sua partida em 2011. Um epitáfio corporativo que, neste 5 de outubro, ainda soa fiel ao impacto que ele deixou na tecnologia, na cultura e na maneira como se consome música.