Em 26 de outubro de 1989, o Brasil ainda tateava a redemocratização, o Muro de Berlim começava a ruir e o rock nacional vivia seu auge e sua despedida. Nesse cenário, a Legião Urbana lançava As Quatro Estações, um álbum que soava como um balanço de uma geração, entre o idealismo político que se esgotava e a ressaca emocional de quem descobria que crescer também dói.
O disco capturou esse espírito com precisão poética e existencial, transformando em canção o que o país sentia, mas ainda não sabia dizer.
O rock brasileiro da virada dos anos 80 para os 90 já não tinha a inocência das rádios livres e dos festivais. Bandas como Titãs, Paralamas, Barão Vermelho e RPM amadureciam, e a Legião, sob o comando de Renato Russo, parecia encontrar o ponto exato entre o peso e o silêncio.
As Quatro Estações, com hits como “Pais e Filhos”, “Há Tempos”, “Meninos e Meninas” e “Monte Castelo”, foi praticamente o último grande manifesto do rock nacional dos anos 80, antes da chegada das guitarras mais pesadas do grunge e da MPB pop dos 90. Quase todas as faixas invadiram as rádios e viraram parte da memória coletiva de uma geração em transição.
Enquanto isso, o mundo olhava para o futuro com desconfiança e brilho nos olhos. “Batman” de Tim Burton dominava os cinemas, “Sociedade dos Poetas Mortos” ensinava que o tempo é curto demais, e as pessoas começavam a experimentar o que seria a era digital. No Brasil, a inflação e a incerteza política contrastavam com uma juventude que ainda acreditava em poesia.
As Quatro Estações ofereceu um abrigo lírico no meio do caos, um disco que fala de amor e perda, fé e dúvida, como se o próprio tempo tivesse parado para ouvir Renato Russo cantar.