O sobrenome pesa e o ouvido também. Entre um lançamento novo do Mammoth WVH (The End, o terceiro da carreira) e lembranças dos anos com o Van Halen, Wolfgang Van Halen abriu o coração para uma velha paixão britânica que nem sempre conquistou os EUA: Oasis. Morando em Los Angeles, ele lamentou ter perdido a recente passagem da turnê de reunião e aproveitou para fazer um elogio direto a Noel Gallagher: “Um dos meus compositores favoritos”.
Wolfgang reforçou um ponto que fãs repetem há décadas: o Oasis é bem mais do que “Wonderwall” e “Don’t Look Back in Anger”.
O voto de Wolfgang: um elogio justo ao disco “subestimado”
Quando pedem o “melhor Oasis”, Wolfgang foge do consenso e escolhe Standing on the Shoulder of Giants (2000). A equipe da Rádio VB entende, e há bons motivos:
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Virada sonora: é o álbum em que Noel expande o léxico do Oasis, flertando com psicodelia, linhas de baixo mais densas, loops, mellotron e climões eletrônicos.
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Canções que crescem com o tempo: “Go Let It Out” (groove hipnótico), “Who Feels Love?” (mantra psicodélico), “Gas Panic!” (ansiedade transformada em parede de guitarras) e, sobretudo, “Sunday Morning Call”, balada madura, com Noel no vocal. A música traz um arranjo generoso de cordas e um refrão que atinge em cheio quem procura o lado contemplativo da banda.
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Oásis pós-glória: depois do turbilhão de fama, o grupo escreve para dentro; há melancolia, reflexão e uma produção que privilegia atmosfera.
Como recorte de época e experimento de linguagem, a defesa de Wolfgang é coerente, especialmente para músicos que escutam textura, arranjo e ambição para além do hit.
O nosso contraponto (com carinho): por que o melhor é Definitely Maybe (1994)
Na Rádio VB, o primeiro lugar da discografia fica com o debut. E não é só por fetiche de estreia:
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Impacto histórico imediato: Definitely Maybe não apenas apresentou o Oasis, mas definiu o clima da metade dos anos 90 no Reino Unido. O disco capturou urgência, arrogância juvenil e fome de palco num registro que virou símbolo de uma geração.
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Sequência de clássicos sem respiro: “Rock ’n’ Roll Star”, “Shakermaker”, “Live Forever”, “Columbia”, “Supersonic”, “Cigarettes & Alcohol”, “Slide Away”, “Married with Children”. É uma espinha dorsal de hinos que poucos álbuns de rock conseguem emplacar de forma tão concentrada.
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Caneta de Noel em estado de graça: melodias diretas e memoráveis, letras que misturam aspiração e cinismo com uma economia de palavras que gruda. É o Noel mais afiado, antes de qualquer excesso de estúdio.
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Som que virou DNA: guitarras espessas, bateria impulsiva, baixo na cara e vocais de Liam no ponto exato entre desdém e devoção. A produção (com as famosas mixagens “na parede”) cristalizou o template da banda para o resto da década.
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Legado medido em bandas: Definitely Maybe é o tipo de disco que abre portas. Do Britpop aos aspirantes de garagem, incontáveis grupos nasceram tentando replicar o sentimento daquele tracklist.
Em outras palavras: Standing on the Shoulder of Giants é o Oasis aprofundando o vocabulário; Definitely Maybe é o Oasis inventando sua língua, e redefinindo o dial do rock britânico.
É sobre isto
A escolha de Wolfgang Van Halen joga luz em um álbum subestimado, e “Sunday Morning Call” merece o afago. Mas, se a pergunta é “qual é o melhor Oasis?”, nosso carimbo fica com Definitely Maybe, pela combinação rara de impacto cultural, consistência de repertório, identidade sonora e a sensação, que nenhum outro registro igualou, de ouvir uma banda tomando o mundo de assalto em 44 minutos.