Pouco depois de lançar o primeiro single, emplacar um álbum de estreia arrebatador e colecionar prêmios, a banda inglesa Wet Leg já fala em aposentadoria. Nada de turnê interminável pelo resto da vida, como fazem tantos veteranos do rock. Para Rhian Teasdale, vocalista e guitarrista do grupo, o futuro ideal é bem mais tranquilo:
“Quero estar em casa assistindo ao Glastonbury na TV, com uma boa xícara de chá. Assistindo à próxima geração.”
A declaração foi dada à coluna Wired, do jornal Daily Star (via Music News), e ajuda a entender a visão de mundo da Wet Leg: uma banda jovem, mas que não se imagina repetindo o roteiro de longevidade de nomes como Rolling Stones, Guns N’ Roses ou AC/DC.
“Quando vejo bandas dos anos 1970 e 1980 ainda em turnê, acho isso absurdo”, diz Rhian, numa mistura de espanto e certo cansaço antecipado. Para ela, há beleza também em saber encerrar um ciclo: “Tudo que é bom chega ao fim, não é?”.
Da ilha de Wight para o mundo
Formada em 2019 por Rhian Teasdale e Hester Chambers, a Wet Leg surgiu como um duo meio tímido, meio debochado, e virou fenômeno global em tempo recorde. O estouro veio com “Chaise Longue”, single lançado em junho de 2021, um hit indie de humor estranho, riffs grudados na cabeça e energia despreocupada.
O álbum de estreia, “Wet Leg” (2022), confirmou o hype: liderou as paradas no Reino Unido e na Austrália e rendeu à banda dois Grammys e dois Brit Awards em 2023. Em plena era do streaming acelerado, a Wet Leg conseguiu algo raro: ser ao mesmo tempo queridinha da crítica e popular o bastante para lotar festivais.
Em 2025, veio o segundo trabalho, “Moisturizer”, marcando uma nova fase. O que começou como duo virou quinteto fixo: Josh Mobaraki (guitarra, teclados), Ellis Durand (baixo) e Henry Holmes (bateria), antes apenas músicos de apoio, foram oficialmente incorporados à banda. O disco também estreou direto no topo das paradas britânicas, consolidando o grupo como uma das forças mais interessantes do rock alternativo contemporâneo.
Apesar das dúvidas sobre o futuro a longo prazo, Rhian não esconde o amor pelo que faz: define tocar em banda como “a sensação mais maravilhosa do mundo” e faz questão de reconhecer a importância da parceira Hester Chambers em sua trajetória.
“Devo muito à Hester. Ela foi incrivelmente paciente comigo. Foi ela quem me ensinou a tocar guitarra. Ela me disse que eu era super talentosa quando, claramente, eu não era”, lembra, misturando afeto e autoironia — duas marcas registradas da Wet Leg.
Passagem pelo Brasil e bênção de Dave Grohl
O público brasileiro já teve um gostinho da Wet Leg ao vivo. A banda fez dois shows no país em 2023: abriu para o Foo Fighters em Curitiba, em 7 de setembro, e, dois dias depois, participou do line-up do festival The Town, em São Paulo.
No Autódromo de Interlagos, o show pegou uma plateia menor, pois muita gente preferiu guardar lugar perto do palco principal para ver o Foo Fighters depois. Mas quem escolheu acompanhar a Wet Leg viu uma banda ainda em fase de afirmação, afinada e energética, segurando bem o espaço entre o indie esquisito e o rock de guitarras mais tradicionais.
Não à toa, Dave Grohl parece ter se tornado um fã confesso. Durante o festival Coachella 2023, ele surgiu de surpresa no palco da Wet Leg, justamente na performance de “Chaise Longue”. O momento, marcado por gritos da banda e da plateia, virou uma espécie de selo extra de aprovação: se até o cara do Foo Fighters faz questão de dividir o palco, alguma coisa está muito certa.
Entre planos de aposentadoria lá na frente e discos que seguem estreando no topo das paradas, a Wet Leg encarna uma geração que não sonha com eternidade no palco, mas com intensidade no agora. Se tudo que é bom acaba, como diz Rhian, por enquanto a banda parece muito longe de fechar a conta. E, até lá, ainda há muito chão, e muitos riffs, pela frente.