“Cherish” é daqueles momentos em que Madonna brinca de contrariar expectativas. Depois de provocar o mundo com “Like a Prayer” e incendiar debates sobre religião, corpo e liberdade, ela surge com uma faixa que parece saída de um verão eterno. Surge doce, luminosa, despretensiosamente romântica. Mas, como sempre, há mais camadas por trás da superfície cristalina.
O que à primeira vista parece só um love song açucarado se revela uma espécie de manifesto pop minimalista. O arranjo limpo, quase ingênuo, bate de frente com a persona incendiária que Madonna carregava naquele fim de década, e é justamente essa fricção que torna “Cherish” tão magnética. É como se ela decidisse explorar outro tipo de ousadia, a de abraçar a ternura sem medo de parecer “leve demais”.
No clipe, com homens-sereios, estética de fábula e direção elegante de Herb Ritts, Madonna reforça um mundo paralelo onde o amor é tão natural quanto a maré que vai e volta.
“Cherish” é uma canção aparentemente simples, mas que funciona como respiro, ironia e encanto. Um daqueles raros momentos em que o pop prova que também pode ser subversivo quando escolhe ser suave.