Há músicas que não chegam pelos ouvidos, elas atravessam o ar, pousam na pele e só depois viram som. Toque de Amor, de Beto Pereira, desliza como quem conhece os desvãos da madrugada e entende que a delicadeza pode ser mais subversiva do que qualquer grito. É uma canção que prefere o sussurro ao excesso, mas nunca a neutralidade.

O toque aqui não é gesto, é atmosfera. Beto constrói um romance que se move na fronteira entre o sonho possível e a lembrança inventada, usando a melodia como lente que distorce o tempo. A música acende um brilho íntimo, quase clandestino, que parece existir apenas para quem topa escutar o mundo com o coração em marcha lenta.

No fim, o que Toque de Amor provoca é um retorno ao que ainda somos capazes de sentir, sem ruídos, sem máscaras, sem ironias. Uma espécie de manifesto afetivo da música maranhense em escala mínima, em que cada nota funciona como convite: desapresse-se, desproteja-se, deixe que o amor toque primeiro.