Em 30 de abril de 2017, o Brasil se despedia de um dos compositores mais inquietos da música popular brasileira: Belchior, morto aos 70 anos, em Santa Cruz do Sul (RS). Doze anos depois de seu desaparecimento voluntário e sete anos após sua morte, sua obra segue atravessando gerações, mais por suas perguntas do que por suas respostas.
Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes, nascido no interior do Ceará, formou-se em medicina, mas abandonou o jaleco pelo violão. Ganhou projeção nos anos 1970, não como símbolo do romantismo da MPB, mas como narrador daquilo que escapava à vitrine cultural da época. Belchior olhava para o Brasil urbano que emergia com desigualdade, juventude deslocada e desejo de identidade. Um cantor do tempo que corre, mas que pede calma.
A partir de "Alucinação" (1976), o disco que o eternizou, trouxe ao centro da música brasileira temas como desilusão política, fraturas culturais e busca de sentido em um país em transformação. Faixas como “Como Nossos Pais”, “Velha Roupa Colorida”, “Apenas um Rapaz Latino-Americano” e a própria “Alucinação” deixaram de ser apenas canções e viraram espécie de diário coletivo do desencanto.
Belchior compôs para Elis Regina, Vanusa e Jair Rodrigues, mas sempre soou como ele mesmo: com fala arrastada, dicção marcada e versos que misturavam filosofia de botequim com poesia concreta. Enquanto o tropicalismo rasgava bandeiras com guitarra, Belchior afinava suas canções com introspecção e política, sem panfleto.
Nos anos 2000, desapareceu dos holofotes, abandonando shows, contratos e contas. Foi dado como sumido em 2009, morando em pensões no Uruguai e no sul do Brasil, ao lado da companheira. Quando reapareceu, recusou explicações, entrevistas ou reconciliações midiáticas. Preferiu o silêncio. Seu sumiço virou manchete, mas parecia apenas coerente com quem já tinha avisado: "o novo sempre vem".
Doze anos depois de sua morte, o nome de Belchior circula em playlists, reedições e tributos, mas a essência do que escreveu segue mais como convite à escuta do que como hino. Suas letras ainda perguntam, com desconforto e lucidez, o que é estar vivo em um país que insiste em se esquecer.
#12AnosSemBelchior