Sempre Livre transitou entre guitarras, rupturas e liberdade
Banda formada só por mulheres ocupou não apenas o palco, mas também o discurso.
Por LockDJ
Publicado em 27/05/2025 16:51 • Atualizado 27/05/2025 16:51
Música
Sempre Livre ocupou um espaço pouco acessível para mulheres na música dos anos 80 (Foto: Divulgação)

O rock brasileiro dos anos 80 carregava uma paisagem majoritariamente ocupada por homens. Quando o Sempre Livre surgiu, em 1984, a configuração se quebrou. Uma banda formada só por mulheres, que ocupou não apenas o palco, mas também o discurso. O próprio nome já provocava — uma referência direta a um produto de uso feminino, algo que nenhum homem carregaria consigo.

 

O grupo surge no Rio de Janeiro e lança o primeiro disco, “Avião de Combate”, produzido por Ruban, conhecido por trabalhos com As Frenéticas. O álbum ganha destaque imediato com a faixa “Eu Sou Free”, que rapidamente se espalha pelas rádios, programas de TV e trilhas das pistas de dança urbanas daquela década.

 

Mas dentro desse repertório, há uma faixa que carrega outra camada narrativa: “Fui Eu”. Enquanto “Eu Sou Free” se torna quase um hino sobre autonomia e autoafirmação, “Fui Eu” trabalha o recorte da experiência pessoal, dos desencontros, da relação que se desfaz. Uma canção que transita pela sensibilidade crua da ruptura amorosa, sem perder o traço urbano e direto que caracteriza o grupo.

 

“Fui Eu” surge como resposta e reflexão. Uma narrativa que desloca o centro do discurso das grandes causas para o cotidiano. Ao cantar um término, a banda também canta autonomia. O refrão assume uma postura sem rodeios, onde assumir o fim, aceitar responsabilidades e seguir em frente são, também, manifestações de liberdade.

 

 

A trajetória do Sempre Livre não foi linear. Em 1985, a vocalista Dulce Quental deixa o grupo. O segundo disco, lançado em 1986, carrega uma nova fase, tentando se rearticular num mercado que seguia marcado pela lógica masculina. A banda ainda retorna nos anos 1990, com o disco “Vícios de Cidade”, e mais tarde, em 2016, lança “A Boa Moça”, já em outro contexto, com outra formação e sob outras dinâmicas culturais.

 

O que fica do Sempre Livre não é só uma discografia, mas um gesto. Uma presença que ocupou um espaço pouco acessível para mulheres na música brasileira dos anos 80. E, dentro disso, “Fui Eu” permanece como um registro daquilo que também é liberdade: a possibilidade de olhar para si, para as próprias histórias, e transformá-las em som.

Comentários
Comentário enviado com sucesso!