Snatch - Porcos e Diamantes entra no catálogo da Netflix
A arte do crime em 24 quadros por soco, com coxe, bigodinhos e balas perdidas, num circo londrino de Guy Ritchie.
Por LockDJ
Publicado em 07/07/2025 12:27 • Atualizado 07/07/2025 12:29
Entretenimento
Snatch joga cada personagem num tabuleiro em movimento (Foto: Divulgação)

Guy Ritchie liga o toca-discos, mistura Clash com Massive Attack e convida Dickens para um gin-tônica rápido antes do caos. O resultado é Snatch, uma comédia criminosa que avança aos solavancos, como se fosse editada pelo próprio riff cortante de “Fuckin’ in the Bushes”, do Oasis, que estoura no filme: cortes abruptos, tela dividida, freeze-frames com fonte gritante e nomes de pilantras que soam a desenhos animados.

Roteiro em looping

Ritchie reclina no sofá de Tarantino, mas prefere o humor ranzinza de Martin McDonagh. Ele joga cada personagem num tabuleiro em movimento:

  • Turco e Tommy, empresários de boxe clandestino tão perdidos quanto moleques de Dickens em East End.

  • Mickey O’Neil, cigano falastrão de Brad Pitt, que fala um dialeto de pub e murmura Proust entre os dentes.

  • Tijolão, vilão que oferece porcos devoradores de carne humana como solução logística — humor britânico com perfume de necrotério.

  • Frankie Quatro-Dedos, Benício Del Toro e o apostador inveterado com uma missão laboriosa.
     

A narrativa opera como DJ usando três toca-discos: enquanto um diamante de 84 quilates muda de bolso, uma luta de boxe se decide num soco estilizado em câmera-lenta. A trilha — Golden Brown (Stranglers), Angel (Massive Attack), Oasis — costura o absurdo com elegância pop.

Estética de videoclipe punk

As câmeras giram em 360°, planos aproximam narinas, cortes pulam como agulha arranhando vinil. Nada permanece estático: as linhas do roteiro se cruzam, retrocedem, aceleram — Arthur Conan Doyle em remix de drum ’n’ bass.

Humor que sangra

O filme é bretão até o tutano: sarcasmo, violência comentada com fleuma, xingamentos tão elaborados que lembram diálogos de Monty Python dentro de um beco de Camden Town. O roteiro ri do submundo, mas nunca convida o espectador a simpatizar com ele — só a se divertir com a ironia do destino.

Por que (re)ver na Netflix?

Porque, mais de 20 anos depois, Snatch ainda ensina que cinema de crime pode ser coreografado como um solo de punk-jazz. É clip, é quadrinho, é charada. E, no streaming, continua soando fresco como o primeiro gole de cerveja morna num pub londrino.

Snatch é uma ópera de trambiqueiros tocada em acelerado – ainda afiada, ainda delirante, ainda rock ’n’ roll.


Desligue o algoritmo, ajuste o volume e deixe as tramas se chocarem — afinal, como diria Turco, “é Londres, amigo; nem o destino segura essa cidade.”


 ⭐⭐ 4,5/5

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