Depois de chamar atenção no Paramount+, 1923 chega agora à Netflix, a partir desta quarta-feira, 9, com suas duas temporadas completas, oferecendo ao grande público um novo mergulho na saga da família Dutton, no universo já consagrado de Yellowstone. Criada por Taylor Sheridan — o mesmo roteirista indicado ao Oscar por A Qualquer Custo —, a série se consolida como mais um elo dramático e violento na genealogia dos Duttons, protagonistas de uma narrativa que expande os mitos do faroeste para além da paisagem.
Se 1883 mostrou o nascimento do rancho Yellowstone a partir do sangue, da poeira e do sonho dos pioneiros James e Margaret Dutton, 1923 salta no tempo para encontrar seus descendentes em meio a novos desafios: a seca devastadora, o fim da Primeira Guerra Mundial, a Grande Depressão que começa a dar seus primeiros sinais e o confronto com o avanço da modernidade. É nesse cenário que conhecemos Jacob (Harrison Ford) e Cara Dutton (Helen Mirren), casal marcado por cicatrizes da história, mas ainda disposto a resistir — com firmeza e dor — à ameaça externa e ao colapso interno daquilo que significa “família” em tempos difíceis.
Com ares de epopeia, a série evoca o espírito dos grandes westerns, mas também imprime um olhar mais contemporâneo e emocional sobre os conflitos fundadores da América rural. O roteiro de Sheridan não economiza na brutalidade dos embates — sejam eles por terra, poder ou dignidade —, mas também oferece espaço para momentos de silêncio, contemplação e memória.
1923 também é um retrato da transição. Harrison Ford entrega uma atuação contida, dura como os campos que tenta proteger, enquanto Helen Mirren incorpora uma matriarca feroz, sensível e pragmática — talvez uma das melhores personagens femininas do universo Yellowstone. O elenco de apoio mantém o ritmo, com destaque para Brandon Sklenar e Aminah Nieves, que ampliam o escopo narrativo para além do rancho, incluindo tramas que abordam o racismo estrutural e a violência contra povos indígenas.
Ao lado de Yellowstone e 1883, 1923 forma uma trilogia que não apenas romantiza o Oeste, mas o confronta. São narrativas que investigam a gênese dos Estados Unidos modernos por meio de seus alicerces mais turbulentos: terra, herança e violência.
Para quem ainda não se deixou levar por esse universo, a chegada de 1923 à Netflix é uma oportunidade imperdível. A série é, antes de tudo, sobre sobrevivência — da terra, dos laços, das narrativas. E nas mãos de Sheridan, o faroeste continua sendo um terreno fértil para se pensar o passado, o presente e as feridas que ainda não cicatrizaram.
