Em Superman (2025), dirigido por James Gunn, o herói mais simbólico da cultura pop retorna às telas em um projeto que busca, ao mesmo tempo, revisitar as origens e relançar o Universo Estendido da DC sob uma nova lógica narrativa. Estreando David Corenswet no papel de Clark Kent, o filme é o primeiro longa-metragem oficial do chamado "Capítulo 1: Deuses e Monstros" do reboot do DCU, e se propõe como um recomeço sem abrir mão do peso histórico que carrega.
Herança e ruptura
A grande missão de Superman (2025) é dupla: reconquistar uma audiência que se afastou após os tropeços do antigo DCEU e, ao mesmo tempo, honrar a mitologia que transformou o personagem em ícone. James Gunn, que já havia mostrado domínio na condução emocional de narrativas com Guardiões da Galáxia, imprime aqui uma direção segura, balanceando ação, drama e humanidade.
O filme não é uma refilmagem direta da origem – como foi o Man of Steel (2013) –, mas também não ignora esse passado. Há ecos evidentes dos clássicos de Richard Donner, sobretudo no tom esperançoso e solar que o novo Superman carrega, reaproximando-se mais do espírito de Christopher Reeve do que do estoicismo melancólico de Henry Cavill.
Técnica e narrativa
Do ponto de vista técnico, o filme se destaca pelo uso cuidadoso dos efeitos visuais, sem exageros, e pela fotografia que opta por tons mais quentes e uma paleta menos saturada, como forma de sublinhar o ideal de esperança que o personagem representa. A trilha sonora, com composições originais de John Murphy, homenageia o clássico tema de John Williams com delicadeza, sem tornar-se pastiche.
A estrutura do roteiro é mais convencional que ousada. Gunn opta por um ritmo narrativo que constrói o herói em meio a um mundo cada vez mais cínico e fragmentado. Clark Kent não é apenas o repórter idealista do Planeta Diário, mas um símbolo em disputa – inclusive dentro do próprio filme. O novo Lex Luthor, vivido com inteligência por Nicholas Hoult, funciona como um contraponto moderno, mais econômico e manipulador do que megalomaníaco.
Elenco e performances
David Corenswet entrega um Superman carismático e com um senso de justiça menos messiânico, mais humano, lembrando o "homem do campo" moldado pelos valores do Kansas. Rachel Brosnahan como Lois Lane é uma grata surpresa: dinâmica, incisiva e com protagonismo ativo, ela remete tanto à tradição da personagem quanto às exigências contemporâneas de agência narrativa.
Entre os coadjuvantes, destaca-se também a introdução de elementos do universo DC mais amplo, com aparições pontuais de outros heróis que ainda serão desenvolvidos. Gunn planta sementes com cuidado, sem desviar o foco da figura central.
Projeções e legado
Superman (2025) é uma tentativa calculada – mas necessária – de reerguer a DC a partir de seu maior emblema. Ao resgatar valores clássicos de esperança e coragem em tempos de polarizações, o filme se torna quase uma resposta cultural à distopia e ao niilismo que dominaram os blockbusters da última década.
Se a fórmula não reinventa a linguagem dos filmes de super-heróis, ao menos resgata a alma de um personagem que havia perdido parte de sua essência. A esperança, para Gunn, não está no espetáculo, mas no caráter – e esse é o verdadeiro diferencial deste novo voo de Superman.
⭐⭐⭐⭐ Nota: 8,5/10
Superman (2025) se firma como um sólido ponto de partida para o novo DCU. Fiel ao legado e atento ao presente, é um filme que fala mais ao coração do que ao hype – e talvez seja exatamente disso que o gênero precisava agora.