Conhecido por sua devoção quase religiosa ao cinema tradicional, Quentin Tarantino sempre se manteve firme em sua crítica às plataformas de streaming. Para o diretor de Pulp Fiction e Bastardos Inglórios, assistir a um filme em um celular ou enquanto se pedala na academia equivale a uma heresia contra a sétima arte. Mas até os mais radicais têm seus pontos de inflexão.
Em entrevista ao The Jerusalem Post, o cineasta americano surpreendeu ao eleger uma série da Netflix como sua favorita. Sem rodeios, Tarantino afirmou:
"Minha série favorita, sem concorrência, é A Maldição da Residência Hill."
O elogio é direcionado à obra dirigida por Mike Flanagan, lançada em 2018 e inspirada livremente no romance gótico de Shirley Jackson, publicado em 1959. A série — tensa, soturna e emocionalmente devastadora — narra os efeitos de uma infância vivida em uma casa assombrada, alternando passado e presente com construção narrativa rara para o gênero.
Com dez episódios, A Maldição da Residência Hill foi um marco dentro do catálogo da Netflix, não apenas pelo sucesso de crítica, mas pela maneira como revitalizou o terror psicológico na TV contemporânea. A fotografia elegante, os planos-sequência vertiginosos e o cuidado com o desenvolvimento emocional dos personagens conquistaram o público e, agora se sabe, também o mais purista dos diretores de Hollywood.

O fascínio de Tarantino pela série é tão intenso que ele revelou que, caso aceitasse trabalhar com a Netflix, preferiria dirigir uma série — e não um filme. A declaração ganha peso à medida que o diretor, atualmente com 62 anos, afirma que seu próximo longa-metragem será o último de sua carreira no cinema.
Após o sucesso de Hill House, Mike Flanagan seguiu expandindo seu universo macabro com títulos como A Maldição da Mansão Bly (2020), Missa da Meia-Noite (2021) e A Queda da Casa de Usher (2023), consolidando-se como um dos nomes mais interessantes do terror moderno para TV.
Crítica da Rádio VB
Mais do que uma série de sustos, A Maldição da Residência Hill é um mergulho na dor, na memória e na herança do trauma. Mike Flanagan transforma o gênero de casa mal-assombrada em uma meditação sobre luto, abandono e laços familiares.
Cada episódio carrega uma atmosfera sufocante, mas também poética, que raramente se vê em produções do gênero.
Não é à toa que Tarantino se rendeu.
Nota Rádio VB: ⭐⭐⭐⭐ 9,0/10