Revisitamos "As Duas Faces de um Crime" - um jogo psicológico nos tribunais
Baseado no romance homônimo de William Diehl, o filme permanece atual em sua abordagem das engrenagens da justiça, da manipulação e das aparências.
Por LockDJ
Publicado em 19/07/2025 17:07 • Atualizado 19/07/2025 17:08
Entretenimento
Richard Gere e Edward Norton dividem cenas emblemáticas em Primal Fear (Foto: Divulgação)

Em As Duas Faces de um Crime (Primal Fear), o diretor Gregory Hoblit entrega mais do que um típico thriller jurídico: ele constrói um jogo psicológico elegante, de ritmo preciso, com tensão crescente e um final que desafia a moral do espectador. Lançado em 1996, o filme é baseado no romance homônimo de William Diehl e permanece atual em sua abordagem das engrenagens da justiça, da manipulação e das aparências.

 

Richard Gere interpreta Martin Vail, um advogado de defesa vaidoso, midiático e cínico, movido menos por ética do que pela autopromoção. Quando decide defender gratuitamente um coroinha tímido e gago, Aaron Stampler (Edward Norton), acusado de assassinar brutalmente um influente arcebispo de Chicago, o caso parece ser mais uma vitrine para sua escalada profissional. No entanto, à medida que os interrogatórios e revelações avançam, a narrativa revela camadas mais profundas e sombrias.

 

A força do filme reside no embate entre o carisma de Gere — em uma de suas melhores performances — e a estreia fulminante de Edward Norton, que conduz seu personagem com equilíbrio e complexidade.

 

Norton transita com precisão assustadora entre fragilidade e intensidade, compondo um personagem que vira a trama de cabeça para baixo. Sua atuação lhe rendeu uma indicação ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante e consolidou, de saída, uma reputação de grande talento dramático.

 

A fotografia de Michael Chapman mantém o clima opressivo dos tribunais e das celas, enquanto a trilha sonora de James Newton Howard contribui para a atmosfera tensa, sem jamais soar invasiva. O roteiro de Steve Shagan e Ann Biderman sabe dosar os momentos de confronto, evitando clichês do gênero e investindo na construção de personagens ambíguos.

 

O que torna As Duas Faces de um Crime mais do que um bom filme de tribunal é o modo como questiona a própria ideia de verdade. A justiça, aqui, não é cega — mas seduzida, manipulada, enganada. No fim, o espectador é levado a revisitar toda a narrativa sob um novo prisma, o que torna a experiência ainda mais inquietante.

 

Mais do que um exercício de suspense, o longa é uma aula de tensão psicológica e construção de personagem, ancorado em atuações emblemáticas. Um clássico do gênero que resiste bem ao tempo. Disponível na Netflix. 

 

⭐⭐⭐⭐⭐ Nota: 10/10

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