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O terror do século XXI respira, sangra e pensa — conforme lista do Hollywood Reporter
Holofotes estão centrados em uma geração de cineastas que reinventou o medo com camadas existenciais, estéticas e sociais.
Por LockDJ
Publicado em 24/07/2025 19:13 • Atualizado 24/07/2025 19:14
Entretenimento
Lista traz um espelho legítimo da pluralidade e do fôlego que o gênero conquistou (Foto: Reprodução)

Se o terror já foi um gênero relegado ao circuito B, às madrugadas da TV e às temporadas de Halloween, hoje ele ocupa um lugar central na produção cinematográfica global — autoral, inquieto e politicamente sensível. A prova vem da lista recém-divulgada pelo Hollywood Reporter, que elege os 25 melhores filmes de terror do século XXI, colocando holofotes sobre uma geração de cineastas que reinventou o medo com camadas existenciais, estéticas e sociais.

 

A equipe da Rádio VB acompanhou a seleção com a curiosidade de quem viveu os anos dourados do VHS, as febres dos found footages e a ascensão do "terror elevado". E sim, o resultado é um espelho legítimo da pluralidade e do fôlego que o gênero conquistou desde os anos 2000.

 

O topo da cadeia alimentar

 

O primeiro lugar da lista vai para Sob a Pele (2013), de Jonathan Glazer — uma obra fria, alienígena (literalmente) e sensorial, que subverte convenções ao inserir Scarlett Johansson no papel de predadora silenciosa em uma Escócia decadente. Escolha ousada, mas simbólica: é o tipo de filme que não oferece sustos fáceis, mas mexe com os nervos e provoca mais perguntas do que respostas. É sobre medo e desejo. Sobre o outro. Sobre nós.

 

Logo em seguida, Corra! (2017), de Jordan Peele, aparece como marco da virada: um filme que une crítica racial, humor ácido e linguagem de gênero com precisão. Peele ainda emplaca Nós (2019), enquanto Hereditário (2018) e A Bruxa (2015) solidificam Ari Aster e Robert Eggers como os grandes nomes do chamado “pós-terror”. Esse termo pode até dividir opiniões, mas aponta para uma tendência: o horror contemporâneo é mais psicológico, simbólico e reflexivo.

 

Os corpos em jogo

 

Entre os 25 selecionados, chama atenção a presença de filmes que colocam o corpo como território de tensão. Deixa Ela Entrar (2008), O Babadook (2014), Raw (2017, nas menções honrosas), Até os Ossos (2022) e Presença (2024) trabalham o corpo como espaço de contágio, desejo, fome ou resistência. São filmes que transformam o grotesco em metáfora — e a metáfora em algo profundamente humano.

 

No auge do terror psicológico do início dos anos 2000, Os Outros (The Others), dirigido por Alejandro Amenábar, surge como um ponto de inflexão no gênero — não pelo susto fácil, mas pela atmosfera claustrofóbica e pela narrativa construída na penumbra. Ambientado em uma mansão envolta por névoa e silêncio, o filme devolve ao horror o gosto pelo mistério clássico, no rastro de Henry James e Shirley Jackson, mas com um desfecho que atualiza o conceito de assombração.

 

Nicole Kidman, em uma das performances mais contidas da carreira, guia o espectador por um labirinto de fé, luto e percepção. 

 

Territórios políticos do medo

 

O medo também é geopolítico. O Hospedeiro (2006) de Bong Joon-ho e Invasão Zumbi (2016) de Yeon Sang-ho trazem o olhar sul-coreano sobre colapsos sociais. O Labirinto do Fauno (2006), de Guillermo del Toro, mistura fantasia e trauma histórico em plena Espanha franquista. Sob a Sombra (2016) e O Que Ficou Para Trás (2020) abordam deslocamentos e guerras a partir de vozes do Irã e da Síria, mostrando como o horror pode surgir da vida real, antes mesmo do sobrenatural bater à porta.

 

As ausências e o presente

 

Algumas ausências são notadas (onde está REC?), mas a lista tem a coragem de apontar para o presente com títulos recentes como Fale Comigo (2022), Pecadores (2025) e o aguardado Nosferatu (2024), mostrando que o gênero segue em ebulição. As menções honrosas, como Noites Brutais, Midsommar e O Orfanato, funcionam como um segundo ranking alternativo — e por que não, um guia de maratona.

 

Considerações da Rádio VB

 

Mais do que uma simples lista de favoritos, o ranking do Hollywood Reporter confirma que o terror deixou de ser apenas um reflexo do medo: ele produz sentidos. O século XXI transformou o horror em linguagem de crítica social, espelho psíquico, rito de passagem e manifesto estético. Dos gritos às metáforas, dos monstros aos sistemas, o gênero amadureceu — e, ironicamente, nunca esteve tão vivo.

 

No som da Rádio VB, o terror pulsa na batida de quem entende que enfrentar o medo é também entender o mundo. E nesses 25 títulos, há um pouco de tudo: dor, sombra, catarse e renascimento. 

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