Quase três décadas depois de transformar um ex-jogador de hóquei desajeitado em ícone do humor esportivo, Adam Sandler retorna ao papel que o consagrou em Um Maluco no Golfe 2, sequência direta do clássico de 1996 que estreia nesta sexta-feira (25) na Netflix. Agora mais velho, viúvo e pai de cinco filhos, Happy Gilmore abandona sua aposentadoria para voltar aos campos com um novo desafio: pagar um curso de balé em Paris para a filha caçula, Vienna — interpretada por Sunny Sandler, filha do ator na vida real.
Se no filme original Gilmore era um intruso desajeitado no mundo elitista do golfe, desta vez ele retorna como lenda desacreditada, enfrentando a pressão do passado e novos rivais como Billy Jenkins (Haley Joel Osment) e Frank Manatee (Benny Safdie). A comédia, dirigida por Kyle Newacheck (Mistério no Mediterrâneo), aposta no humor físico, no sarcasmo direto e em uma boa dose de nostalgia.
O filme original (1996), dirigido por Dennis Dugan, foi um marco da comédia noventista: absurdo, agressivo e carismático, soube usar o nonsense como motor narrativo sem perder o ritmo. Apesar de subestimado pela crítica na época, Happy Gilmore conquistou o público e se tornou cult com o tempo — um dos primeiros grandes acertos de Sandler no cinema, misturando pastelão com crítica ao esporte como espetáculo midiático.
Nota Rádio VB: ⭐⭐⭐ 8,5/10. Uma comédia "inconvenientemente divertida".
Na sequência, o tom é semelhante, mas com peso emocional maior. A perda da esposa (vivida novamente por Julie Bowen) permeia todo o filme. Ela aparece em lembranças e devaneios de Happy, servindo de guia espiritual e emocional. Para Bowen, o novo Gilmore “é um personagem que cresceu, que sente, que tem camadas” — e ainda assim mantém os socos, os palavrões e o velho taco de golfe sempre à mão.
O elenco de apoio funciona como tributo e autocelebração da comédia dos anos 90. Ben Stiller reprisa seu papel como o inescrupuloso Hal L., agora um conselheiro dos Alcoólicos Anônimos. Shooter McGavin (Christopher McDonald) volta como antagonista veterano, e há participações especiais de Margaret Qualley, rappers como Bad Bunny, Eminem e Post Malone, além de figuras reais do golfe como Jack Nicklaus e Lee Trevino.
Newacheck admite que o filme flerta com os limites do politicamente correto, mas afirma que “o foco sempre foi colocar a piada em primeiro lugar”. Sandler concorda e diz que o objetivo foi humanizar Happy Gilmore sem perder a essência cômica: “É sobre um cara da nossa idade tentando lidar com a juventude que passou”.
A sequência pode não reinventar a fórmula, mas entrega exatamente o que promete: uma comédia exagerada, autoconsciente, repleta de energia vintage e que sabe rir de si mesma. Para fãs de Sandler, é um presente nostálgico. Para novos públicos, é uma porta de entrada para um tipo de humor que hoje parece mais raro — sem filtros, mas com coração.
Nota Rádio VB: ⭐⭐⭐ 8,0/10