A notícia surpreendeu: Brad Pitt retoma o papel de Cliff Booth em um novo filme ambientado em 1977, escrito por Quentin Tarantino e dirigido por David Fincher, com produção da Netflix. Ainda sem título oficial confirmado, o projeto — batizado como The Continuing Adventures of Cliff Booth — já iniciou algumas filmagens durante o mê de julho.
Do charme lento à ação contida: desmontando Era Uma Vez em... Hollywood
O filme original (2019) apostava em atmosfera nostálgica, personagens tranquilamente construídos e um desfecho alternativo à tragédia de Sharon Tate. A força residia na sutileza do olhar de Tarantino sobre a indústria do cinema e o final simbólico. Embora elogiado, o longa decepcionou quem esperava a visceralidade clássica do diretor, resultando em certa divisão crítica sobre seu ritmo e falta de tensão explícita.
Fincher na direção: promessa de tensão calculada
Com Fincher no comando — cineasta por trás de Se7en, Clube da Luta e O Curioso Caso de Benjamin Button — espera-se uma abordagem mais precisa e direcionada, com cenas de tensão e ação contida, mas carregadas de impacto psicológico. A química anterior entre Fincher e Pitt, já testada em três filmes, traz familiaridade técnica e profundidade ao anti-herói Boothy.
Tarantino no roteiro: evolução ou repetição?
Tarantino cedeu a cadeira de direção, fato raro em sua carreira, mas preserva a escrita do personagem que consagrou Pitt com o Oscar. O roteiro deriva de The Movie Critic, projeto abandonado em 2024, agora reconcebido como spin-off centrado no universo de Cliff Booth. A expectativa é que o tom seja mais incisivo, com potencial para confrontos com gângsteres filipinos e artes marciais — especulação ainda não confirmada, mas que sinaliza uma guinada de estilo.
Expectativa e crítica: legado reinterpretado
Pontos fortes esperados:
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Tensão narrativa e ritmo mais contido, legado de Fincher;
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Potencial para episódios de ação estilizada com densidade visual;
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Cliff Booth ganhando protagonismo enquanto personagem complexo.
Riscos e questões:
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Será capaz de manter a poesia sutil de Tarantino sem afogá-la em ritmo frio?
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A ausência de Rick Dalton (DiCaprio) e Sharon Tate (Robbie) pode descaracterizar a mitologia original;
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A mudança de direção corre o risco de alterar o tom de quem espera continuidade emocional, não apenas derivação temática.
Em resumo
Este spin-off reúne duas visões claramente contrárias: Tarantino, mestre em diálogos longos e mortes simbólicas; Fincher, arquiteto do suspense e da precisão dramática. A colaboração representa ousadia: um roteiro dessacralizado reaparece nas mãos frias de um cineasta que sabe explorar o universo dos bastidores com eficiência.
Se o primeiro filme foi uma carta de amor ao Hollywood dos anos 60, este promete ser um thriller estilizado ambientado na virada da década seguinte — com Cliff Booth atuando como fixador de crises no submundo hollywoodiano.