Mais de 40 anos após o cancelamento sem desfecho, Caverna do Dragão ganhou um encerramento para celebrar o culto que se formou em torno da animação. Lendária nos anos 1980 e eternamente presente nas manhãs da TV aberta brasileira, a série que marcou gerações teve seu tão aguardado episódio final revelado em 2024 — e com ele, se fechou um ciclo de mistério, mitologia e saudade.
Ao contrário das teorias sombrias e conspiratórias que rondaram os fãs por décadas — especialmente aquela que sugeria que os jovens protagonistas estariam mortos e presos em uma espécie de purgatório —, o encerramento da história veio com emoção, redenção e esperança. Batizado de Requiem, o episódio foi originalmente escrito por Michael Reaves em 1985, mas nunca produzido pela emissora. Apenas agora, em uma produção de 15 minutos com estética em stop-motion, dubladores originais e roteiro de Deive Pazos e Fábio Yabu, o desfecho então veio à tona.
No roteiro de Requiem, Vingador — o grande antagonista — é revelado como filho corrompido do Mestre dos Magos, com quem divide laços profundos e ambíguos ao longo da série. O episódio culmina em uma decisão crucial: os seis adolescentes podem voltar para casa ou escolher permanecer e continuar lutando contra o mal. Um final à altura da complexidade emocional da animação, que nunca tratou seu público como ingênuo, mas como jovens capazes de compreender dilemas morais, perdas e amadurecimento.
Para muitos, inclusive esta coluna, esse encerramento tardio mostra o quanto Caverna do Dragão esteve à frente de seu tempo. Episódios como O Cemitério dos Dragões, em que os jovens cogitam matar o Vingador para poderem voltar para casa, desafiaram os limites narrativos das animações infantis daquela geração. O roteirista Reaves chegou a afirmar que a série foi “muito sombria para os padrões da época” e por isso não teve o final aprovado.
No Brasil, Caverna do Dragão tornou-se um verdadeiro fenômeno cult. O país adotou a animação como poucas nações o fizeram. Entre reprises eternas, memes, brinquedos, teorias e uma campanha live-action da Renault em 2020 que quase enganou os fãs com uma falsa conclusão, Caverna do Dragão foi — e ainda é — uma espécie de mitologia moderna para quem cresceu nos anos 80 e 90.
E se fosse um filme? A Rádio VB escala seu elenco para adaptação live-action
Aproveitando o embalo do encerramento oficial em 2024, a Rádio VB imaginou como seria uma adaptação live-action dirigida por ninguém menos que Peter Jackson, o mestre das jornadas épicas (O Senhor dos Anéis, O Hobbit). O resultado? Um elenco de peso para dar vida a esse universo tão enigmático:
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Hank (O Arqueiro) – Tom Holland, no papel do jovem herói idealista.
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Sheila (A Ladina) – Anya Taylor-Joy, com sua mistura de força e vulnerabilidade.
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Diana (A Acrobata) – Zendaya, perfeita no papel atlético e inteligente.
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Eric (O Cavaleiro) – Jack Dylan Grazer, com o tom cômico, mas carismático.
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Presto (O Mago) – Noah Schnapp, nerd autêntico e cheio de inseguranças.
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Bobby (O Bárbaro) – Roman Griffin Davis (Jojo Rabbit), feroz e doce na medida.
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Uni (O Unicórnio) – CGI com voz de Florence Pugh.
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Mestre dos Magos – Ian McKellen, com o tom enigmático e paternal que o papel exige.
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Vingador – Benedict Cumberbatch, com a ambiguidade que o personagem merece.
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Karena – Eva Green, como a feiticeira que simboliza o passado e as escolhas do Mestre dos Magos.
Dirigido por Peter Jackson e roteirizado por Charlie Kaufman (Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças), o filme traria toda a carga simbólica, existencial e fantástica de Caverna do Dragão para uma nova geração.
O impacto que nunca se perdeu
Mais do que uma animação de fantasia, Caverna do Dragão sempre foi uma jornada sobre amadurecimento, escolhas e resistência. Com o episódio final revelado, há dois anos, foi possível ter um encerramento que fez jus à história e ao seu legado. Não foi no parque de diversões que tudo terminou. Foi em cada sala, em frente à TV, décadas depois, com uma lembrança viva e atual da força que boas histórias têm de atravessar o tempo.