Em 30 de julho de 2003, saía da fábrica de Puebla, no México, o último exemplar do Volkswagen Fusca — encerrando um ciclo de quase seis décadas de um dos carros mais icônicos da história automotiva mundial. Ao todo, foram produzidas 21.529.464 unidades do modelo que, mais do que um veículo popular, tornou-se símbolo de gerações, de resistência mecânica e até de uma inesperada aventura cinematográfica.
No Brasil, o Fusca foi paixão nacional. Lançado por aqui ainda como importado em 1950 e fabricado localmente a partir de 1959, o modelo atravessou décadas no gosto popular, com seu desenho inconfundível, motor traseiro resistente e um som característico do escapamento que muitos identificavam de longe.
A produção brasileira durou até 1986, com uma “ressurreição” nos anos 1990, impulsionada por políticas de incentivo ao carro popular. Mas foi mesmo no México, onde o modelo seguiu firme até os anos 2000, que o Fusca teve seu canto do cisne: a série especial Última Edición, com apenas 3.000 unidades — hoje relíquias de colecionador.
Com sua despedida oficial em 2003, o Fusca virou memória afetiva sobre rodas. Mas sua eternidade cultural já estava garantida bem antes — e muito por conta do cinema.
Herbie, o Fusca falante que conquistou gerações
Se o Fusca foi, em muitos países, sinônimo de economia e funcionalidade, foi em Se Meu Fusca Falasse (The Love Bug, 1968), que o carro ganhou alma, personalidade e fama mundial. No clássico da Disney — disponível atualmente na plataforma Disney+ — o pequeno carro branco com listras vermelhas e azuis e o número 53 no capô virou o personagem Herbie, um Fusca com vida própria e coração acelerado por boas causas.

O filme, estrelado por Dean Jones e Michele Lee, fez tanto sucesso que gerou uma franquia com sequências e até uma versão moderna nos anos 2000 com Lindsay Lohan. A figura do Herbie transformou o Fusca em um símbolo pop internacional, abraçado por crianças, nostálgicos e entusiastas da cultura automotiva.
Em tempos de carros cada vez mais computadorizados, silenciosos e cheios de assistentes digitais, o Fusca permanece como lembrança de uma era analógica — onde um carro simples podia ser personagem de histórias, companheiro de aventuras e, literalmente, herói de filmes. Sua despedida das linhas de montagem, em 2003, foi o fim de uma era, mas não do seu legado.
Hoje, 22 anos depois, o barulhinho característico do motor boxer ainda ecoa na memória de quem teve um, de quem viu o Herbie vencer corridas improváveis ou simplesmente de quem cresceu em um banco de trás de Fusca.
Porque, para um carro que falava, o silêncio da sua ausência ainda diz muito.