Quase duas décadas após redefinir a comédia televisiva com sua estética documental e humor desconfortavelmente honesto, The Office volta a inspirar um novo experimento cômico com o spin-off The Paper, que estreia no dia 4 de setembro com quatro episódios iniciais. O novo projeto traz uma mistura de nostalgia e renovação ao resgatar o estilo da série original, ao mesmo tempo em que desloca a ação do mundo corporativo da Dunder Mifflin para a redação moribunda de um jornal local.
No trailer, somos recebidos por uma figura familiar: Oscar Martinez (Oscar Nuñez), o contador eternamente exasperado da série original, que parece incrédulo ao se ver, mais uma vez, seguido pelas mesmas câmeras documentais. Seu desabafo cômico — “De novo, não. Eu não concordei com nada disso” — já dá o tom meta-humorístico da série: The Paper sabe de onde veio e brinca com isso desde o primeiro minuto.
Do escritório para a redação: o espírito é o mesmo, o cenário é outro
Se The Office cravou sua marca ao transformar a rotina entediante de um escritório de vendas em uma ode ao absurdo cotidiano, The Paper aposta na decadência de um jornal pequeno para renovar a fórmula. A trama gira em torno de Ned Sampson (Domhnall Gleeson), novo editor-chefe do fictício Toledo Truth Teller, que tenta salvar o veículo do colapso — ou, ao menos, da irrelevância.
Em vez de vendedores desmotivados, temos repórteres que mal sabem o que significa fazer jornalismo: suas experiências prévias se resumem a redações escolares, postagens em redes sociais e conversas em grupos de mensagens. E é nesse cenário de fracasso iminente que reside o potencial cômico da série. A autodepreciação é explícita já no trailer: “Você já leu esse jornal? É péssimo”, admite o protagonista, antes de prometer uma improvável virada editorial.
O que esperar do spin-off?
Criada por Greg Daniels (The Office, Parks and Recreation) e Michael Koman (Nathan For You), The Paper reúne uma equipe criativa com vasta experiência em sátiras do mundo do trabalho. A expectativa é que a série mantenha o formato de mockumentary, com personagens quebrando a quarta parede, olhares constrangidos para a câmera e silêncios desconfortáveis que dizem mais do que diálogos.
A proposta de situar a série no universo do jornalismo traz uma camada oportuna de crítica contemporânea: em tempos de fake news, crise dos jornais impressos e desinformação digital, rir da desorganização e do amadorismo de uma redação pode ser uma forma irônica de apontar o colapso (ou a resiliência) da imprensa local.
O elenco inclui nomes promissores, como Chelsea Frei, Melvin Gregg e Sabrina Impacciatore (reconhecida por seu papel em The White Lotus), além de participações de comediantes como Gbemisola Ikumelo e Alex Edelman. A mistura entre rostos novos e personagens clássicos, como Oscar, pode ser a chave para equilibrar inovação e saudade — oferecendo algo novo sem perder o DNA que conquistou milhões de fãs.
A fórmula ainda funciona?
O desafio de The Paper será provar que a fórmula de The Office ainda tem fôlego fora do ambiente corporativo clássico. A ironia, o desconforto e o retrato das mediocridades humanas continuam sendo ingredientes promissores — mas o sucesso vai depender de como esses elementos serão adaptados à nova realidade jornalística.
Se conseguir atualizar o humor ácido e transformá-lo em uma crítica bem-humorada sobre o estado atual da informação e da comunicação, The Paper pode se tornar mais do que um spin-off nostálgico: pode ser a nova comédia inteligente que estávamos esperando.