Em 1985, George Miller levou sua saga de estrada e poeira a um território inesperado. Mad Max: Além da Cúpula do Trovão, terceiro capítulo da franquia, chegou carregando o peso de suceder dois marcos: o filme independente de 1979, que apresentou ao mundo o ex-policial errante interpretado por Mel Gibson, e Mad Max 2 – A Caçada Continua (1981), obra-prima que redefiniu o gênero pós-apocalíptico com suas perseguições viscerais e cenários áridos. O terceiro filme, lançado em 1985, preferiu dobrar em outra direção: uma mistura de espetáculo pop, mitologia tribal e alegoria sobre poder.
A presença de Tina Turner como a poderosa Tia Entity é talvez o símbolo mais eloquente dessa virada. Mais que antagonista, ela encarna o espírito dos anos 1980: carisma, presença e performance. Sua participação ampliou o alcance do filme para além dos fãs de ação, transformando-o em fenômeno cultural, especialmente pela música-tema We Don’t Need Another Hero, que se tornou um clássico das rádios e permanece até hoje como um dos hinos da década. A trilha sonora, com sua atmosfera épica e quase operística, marca uma diferença em relação ao minimalismo áspero das duas produções anteriores.
Quarenta anos depois, Além da Cúpula do Trovão é visto com certo olhar ambíguo. Muitos críticos e fãs ainda consideram o filme mais frágil da trilogia original, acusado de suavizar a brutalidade característica de Miller em favor de uma narrativa mais acessível ao grande público. Por outro lado, sua estética exagerada, seus personagens emblemáticos e a ousadia de inserir uma dimensão quase mitológica na jornada de Max lhe renderam status de cult.
Atualmente, a obra é reconhecida como peça fundamental para entender a transição da franquia, que décadas mais tarde retornaria em grande estilo com Mad Max: Estrada da Fúria (2015). Disponível para assinantes da HBO Max, o longa permanece como documento de uma época em que o cinema de ação ousava ser pop sem abrir mão da estranheza.