Google Analystic
“O Ônibus Perdido” transforma tragédia em cinema de alto impacto
Com Matthew McConaughey e America Ferrera, Paul Greengrass mistura tensão de ação e crônica humana ao adaptar a história real do Camp Fire (2018)
Por LockDJ
Publicado em 04/10/2025 18:54 • Atualizado 04/10/2025 18:55
Entretenimento
O Ônibus Perdido confirma Greengrass como cronista da urgência (Foto: Divulgação)

Paul Greengrass, ao lado de Doug Liman, um dos responsáveis por redefinir a linguagem da ação nos anos 2000 com Jason Bourne, retoma aqui o realismo em estado de nervo que marcou Voo United 93 e Capitão Phillips. Em O Ônibus Perdido (Apple TV), ele adapta o livro-reportagem de Lizzie Johnson (Paradise: One Town’s Struggle to Survive an American Wildfire) para acompanhar, quase em tempo real, a odisseia do motorista escolar Kevin McKay (Matthew McConaughey) e da professora Mary Ludwig (America Ferrera) ao tentar tirar 22 crianças do caminho do Camp Fire, incêndio que devastou a Califórnia em 2018.

O que o filme faz bem


Greengrass fundiu duas vertentes que domina: a reconstrução de eventos reais com participação de profissionais e materiais de arquivo e a gramática de ação “câmera na mão/edição cortante” que cola o espectador aos personagens. O resultado é um filme-catástrofe de proximidade, no qual o espetáculo visual nunca atropela o drama.


A direção de fotografia de Pål Ulvik Rokseth impõe fumaça, grão e baixa luz como linguagem do medo. Quando o fogo avança, a câmera tremida deixa de ser maneirismo e vira sensor de pânico.


O design de som transforma vento e crepitar em ameaça palpável, compondo a criatura “viva” que o fogo parece ser em vários planos. O ritmo alterna decisões logísticas (rotas, rádio, combustível, tempo) com pequenas dinâmicas morais (quem entra, quem espera, quem guia), e é aí que o filme encontra sua força.

Elenco e personagens


McConaughey
usa sua persona de homem comum carismático para ancorar a empatia. Greengrass investe no melodrama íntimo (mãe fragilizada, fissuras com o filho) não para dourar a pílula, mas para aumentar o custo emocional de cada escolha. America Ferrera é o contrapeso ideal: pragmática, resoluta, parceria de risco que lembra, em espírito, duplas de ação clássicas (sem o pirotécnico gratuito). O conjunto de coadjuvantes (crianças, bombeiros, operadora de rádio) sustenta a verossimilhança com interpretações contidas e funcionais.


Limites e escolhas


O filme não debate clima e política pública, mas, quando arrisca, o discurso do chefe dos bombeiros (bom Yul Vazquez) soa lateral. É uma decisão de priorizar a sobrevivência naquele dia, não a macroestrutura que a possibilitou. Também há acúmulo de subtramas pessoais sobre o protagonista que às vezes empurram o filme para o excesso de sublinhado emocional. Nada, porém, que quebre a imersão.


Veredito


O Ônibus Perdido
confirma Greengrass como cronista da urgência. Ele pega um fato traumático, encurta a distância entre tela e realidade e extrai um thriller humano que respira medo, coragem e logística. É cinema de impacto sem cinismo e sem pirotecnia vazia, e, por isso mesmo, mais devastador.

Onde ver: Apple TV


Para quem é: fãs de dramas baseados em fatos reais, thrillers “pisando no chão” e do Greengrass de United 93/Phillips.


Nota:
★★★★☆ 9,0/10

Comentários
Comentário enviado com sucesso!