“Somewhere My Broken Heart”, música de Stonewall Celebration, álbum solo de Ranato Russo, soa como bilhete amassado encontrado no fundo de uma jaqueta surrada.

Um inglês de apartamento, madrugada sem filtro, a confessionária portátil de Renato Russo quando a cidade dorme. A canção escorre como fita demo, violão magro, piano que pisca, uma voz que parece telefonema a cobrar para um passado impossível.

O inglês não é pose, é refúgio. Serve para deslocar o drama de endereço, vestir a dor com outra roupa e tentar, quem sabe, convencer o espelho. Há ecos de folk tardio e chamber pop minimalista, como se um rádio antigo captasse uma frequência fantasma entre a 105 e a lembrança de quem partiu.

No fim, a música repousa na beira do silêncio, onde o romantismo é quase um código Morse: curto, longo, breve, surrurando “I hope that in time you will find what you long for.”

A música não promete catarse, oferece companhia. Para quem conhece os escombros elegantes de Renato Russo, é mais um mapa rabiscado do mesmo território. Vulnerável e teimosamente belo.