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John Lennon, 85 anos: o dia em que tudo começou (e recomeçou)
Do berço em Liverpool ao filho Sean e o retorno com “Starting Over”, o 9/10 condensa a saga do artista ao lado de Yoko e além dos Beatles.
Por LockDJ
Publicado em 09/10/2025 09:03
Música
Artista de tantas estações, Lennon completaria 85 anos nesta quinta-feira, 9 de outubro (Foto: Reprodução)

John Lennon nasceu em 9 de outubro de 1940, em Liverpool, e a data, que hoje completaria 85 anos, carrega ecos que atravessam a cultura pop como poucos aniversários conseguem. Filho de marinheiro ausente e criado pela tia Mimi, Lennon transformou inquietação em linguagem. Ainda adolescente, formou o The Quarrymen, que encontraria em Paul McCartney e depois em George Harrison a liga para uma parceria revolucionária.


Com os Beatles, Lennon ajudou a redesenhar a canção popular: do frescor de “Please Please Me” ao experimentalismo de “Tomorrow Never Knows”, do comentário social de “Help!” à expansão de forma e estúdio em Rubber Soul e Revolver. Sua pena unia ironia, vulnerabilidade e rebeldia. Um nervo exposto que viraria assinatura.

A separação dos Beatles, no fim de 1969/70, não o diminuiu, apenas mudou o palco. Ao lado de Yoko Ono, artista, parceira e catalisadora, Lennon embarcou em uma fase de arte total, na qual música, performance e política se misturavam. Vieram o grito cru de Plastic Ono Band (1970), a utopia melódica de “Imagine” (1971) e manifestos como “Give Peace a Chance” e “Power to the People”. Para muitos, Yoko foi alvo de preconceito e bode expiatório conveniente, mas, para Lennon, ela foi horizonte estético e afetivo, interlocutora radical num momento em que ele queria romper moldes, inclusive os que ele próprio ajudara a criar.

Entre 1973 e 1975, o chamado lost weekend levou Lennon por desvios, bares e brigas, mas também por pérolas como “#9 Dream”. O retorno definitivo a Yoko coincide com outra efeméride do 9 de outubro. Em 1975 nasce Sean Ono Lennon. John, então, recolhe-se do circuito da fama para ser pai em tempo integral, gesto raro para um ex-Beatle, aprendendo a fazer pão, a cozinhar, a experimentar um silêncio doméstico que soava, nele, tão revolucionário quanto um acorde dissonante.

Cinco anos depois, em 9 de outubro de 1980, Lennon comemora o aniversário lançando o single “(Just Like) Starting Over”, cartão de visitas do álbum Double Fantasy: uma canção de recomeço, com arranjo luminoso e um refrão que parece abrir janelas. O simbolismo é gritante, e o artista que havia se calado por meia década voltava com uma declaração de amor maduro e cotidiano, celebrando a parceria com Yoko e a vida em família. Uma espécie de anti-mito rock, sem pirotecnia, mas com franqueza.

Dois meses depois, na noite de 8 de dezembro, o assassinato na porta do edifício Dakota interromperia brutalmente esse novo capítulo. A morte de John Lennon tornou-se, por si, mito. A violência impactante, o local emblemático, a interrupção do retorno. Mas o luto coletivo também cristalizou a imagem de um artista que soube ser contraditório, humano, provocador, e que fez da canção um gesto político e íntimo ao mesmo tempo.

 

Ao olhar para as três chaves de 9 de outubro, 1940, o nascimento de John, 1975, a chegada de Sean, 1980, o brinde de recomeço com “Starting Over”, vê-se um arco que vai da invenção à herança. Lennon quebrou moldes com os Beatles, queimou pontes para encontrar a própria voz, amou publicamente e pagou o preço. No fim, escolheu a vida comum como utopia possível. O que ficou não é apenas um repertório incontornável, mas uma pergunta viva: como ser honesto consigo mesmo num mundo que exige máscaras? A resposta, em Lennon, sempre soou simples e feroz: começar de novo, quantas vezes for preciso.

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