Ela paira acima do quarteirão, solando no vazio entre antenas e nuvens baixas. David Byrne narra como quem descreve um milagre cotidiano: uma garota que simplesmente decola, sem foguetes, sem explicação, só gravidade desaprendida. O baixo caminha com sorriso torto, a guitarra limpa pisca luzes de neon, e o teclado faz o mapa da cidade visto do alto.

A letra de "And She Was" é urbana e onírica, meio Polaroid, meio sonho lúcido do Talking Heads. Enquanto ela voa, alguém fica no chão, e aí mora o truque. Não é sobre superpoder, é a sensação de quebrar a rotina pelo ângulo errado (ou certo). O groove new wave veste cores tropicais, os backing vocals entram como sirenes gentis, e tudo pede passos curtos na calçada, olhar para cima e um “por que não?”.

No fim, “And She Was” é hino para quem já quis escapar por cinco centímetros do asfalto e respirar ar novo sem sair do bairro. Pop esquisito, dançante e iluminado. É a metáfora perfeita para aquela manhã em que a cidade continua a mesma, mas você, por algum motivo, está um pouco acima dela.