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Série sobre Ed Gein transita entre o documento e o delírio
Sólida na contextualização e nos ecos culturais, produção é um true crime instigante e infalível para os fãs do gênero.
Por LockDJ
Publicado em 12/10/2025 17:13 • Atualizado 12/10/2025 17:15
Entretenimento
Ed Gein, o “açougueiro de Plainfield” é retratado na nova temporada de Monstro (Foto: Divulgação)

Disponível na Netflix, a nova temporada da série antológica Monstro: A História de Ed Gein (criada por Ryan Murphy e Ian Brennan) tem bons momentos de reconstituição, cenário rural, arquivos de imprensa, depoimentos técnicos, e um acerto central: retratar o isolamento psíquico do “açougueiro de Plainfield” sem glamourizar o horror.

 

A obra derrapa na cartada dramática dos episódios finais, com Gein “ajudando” o FBI a capturar Ted Bundy. Historicamente, isso nunca aconteceu. Bundy foi pego por abordagens de trânsito e por reconhecimento de sobreviventes, não por consultoria de outro criminoso. A série tenta “corrigir” a licença ao revelar que tudo não passava de delírio do próprio Gein, solução estilística que comunica a dissociação do personagem, mas confunde fronteiras entre fato e ficção num produto anunciado como documental. Funciona como artifício narrativo, mas cobra um preço em fidelidade histórica.

No que interessa ao legado cultural, a produção acerta ao ligar Gein à genealogia do terror moderno. Seus crimes, especialmente o roubo de túmulos, a confecção de objetos com restos humanos e a fixação materna, alimentaram o imaginário que Alfred Hitchcock destilou em Psicose (1960). O filme não adapta literalmente o caso, mas reescreve seus motivos, como a casa isolada, a figura da mãe onipresente, a personalidade fraturada de Norman Bates e a violência que irrompe do ambiente doméstico.

 

A partir de então, a influência de Gein se espalhar para O Massacre da Serra Elétrica e O Silêncio dos Inocentes. Três obras, três traduções diferentes do mesmo pavor, tendo o corpo como objeto e a casa como teatro da monstruosidade.

Fatos duros que a série precisa (e em grande parte consegue) sustentar: quantas pessoas Ed Gein matou antes de ser preso? Duas vítimas confirmadas são Mary Hogan (1954) e Bernice Worden (1957). O restante do seu macabro inventário veio de exumações em cemitérios locais, mas suspeitas de outros homicídios nunca foram comprovadas. Quando a temporada mantém essa linha factual, ela é valiosa como documento, quando flerta com o “e se?”, ganha potência dramática, mas perde rigor.

 

Sólida na contextualização e nos ecos culturais de Psicose, mas com um tropeço desnecessário na ficcionalização do caso Bundy. No geral, um true crime instigante e infalível para os fãs do gênero.


Nota: ★★★ (8,5 de 10)

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