Lançada em 1982, Sexual Healing é a ponte entre o sagrado e o profano que Marvin Gaye construiu com um sintetizador e um coração em frangalhos. Depois de uma vida marcada por glória, vício e exílio, o cantor transformou sua dor em pulsação. A faixa soa como redenção em forma de batida: quente, eletrônica, quase espiritual. É soul futurista, feito num tempo em que o desejo ainda cabia dentro da melodia.
Há algo de meditativo no modo como Gaye costura o corpo e o espírito. O prazer aqui não é apenas físico, é terapia, anestesia, catarse. Cada sopro, cada acorde, parece querer salvar alguém da solidão moderna. É música de quarto, mas também de templo. um gospel sensual no qual o amor é o último milagre possível.
Mais de quatro décadas depois, Sexual Healing continua soando urgente. Seu groove lento e sua vulnerabilidade quase mística ainda ecoam como um lembrete de que o toque, humano, sonoro, afetivo, é uma forma de cura. E Marvin Gaye, entre o divino e o terreno, ainda prescreve o mesmo remédio: uma canção para sarar o que a vida machuca em silêncio.