Olivia Dean não posa de oráculo, e justamente por isso convence. Em The Art of Loving, a cantora investiga, com franqueza e afeto, as formas de amar: quem amamos, como amamos e quem nos tornamos nesse processo.
A voz doce e precisa, apoiada por arranjos que orbitam o neo-soul, o R&B e o jazz de aura clássica, costura um disco que soa íntimo sem ser confessional demais, pop sem ser descartável.
Amor se ensina — e se pratica
Inspirada pela ideia de bell hooks em All About Love, de que o amor é uma prática social, não uma mística inalcançável, Dean leva a sala de aula para o estúdio. Entre sopros sutis, pianos calorosos e bases que respiram, ela organiza um “manual afetivo” que passa por romance, amizade, autocuidado e limites.
O repertório que sustenta a tese
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“Nice to Each Other” — sorriso imediato, refrão pegajoso. A canção celebra o básico que raramente é dito: gentileza como cimento das relações.
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“So Easy (To Fall in Love)” — o enamoramento como avalanche: cordas e harmonias elevam a sensação de inevitabilidade.
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“Baby Steps” — foco no amor-próprio sem muletas. Batida contida, letra firme: processo, não milagre.
Entre essas paradas, o álbum trafega com elegância por faixas mid-tempo e baladas que valorizam o timbre de Dean: sem exageros vocais, mas com intenção a cada sílaba. Quando o arranjo cresce, é para servir à narrativa; quando recolhe, amplia a intimidade.
Coerência na diversidade
Há oscilações de clima, do pop luminoso à soul music de tom crepuscular, mas a unidade vem da voz e da escrita. Dean testa possibilidades sem perder o fio. O resultado é um trabalho que conversa com a tradição (jazz, soul, R&B) enquanto ajusta suas próprias lentes contemporâneas sobre afeto, escolha e cuidado.
Relevância
Em tempos de fórmulas fáceis, The Art of Loving aposta na nuance. Não há respostas prontas, e sim perguntas bem feitas, e belamente cantadas. Ao compartilhar aprendizado, tropeços e delicadezas, Olivia Dean confirma o status de estrela britânica moderna. Técnica a serviço de emoção, conceito servindo canção.
Veredito: um disco luminoso, seguro de si e generoso com o ouvinte, daqueles que crescem a cada audição.