“Free Fallin’”, lançada em 1989, é a tradução mais pura do espírito de Tom Petty; simples, crua e inquieta. Em pouco mais de quatro minutos, ele constrói uma parábola sobre a contradição de ser livre e, ao mesmo tempo, perdido. O violão dedilhado em loop parece deslizar no ar como o próprio título sugere, enquanto a voz nasal, meio cansada, confessa a culpa e a doçura de deixar tudo para trás.
É uma música que soa como um suspiro americano. Autopistas infinitas, amores deixados no retrovisor e uma solidão que reluz no pôr do sol.
Petty nunca precisou gritar para ser rock’n’roll. “Free Fallin’” é o anti-hino, uma meditação disfarçada de hit. A produção minimalista de Jeff Lynne abre espaço para o silêncio entre as notas, e é nesse intervalo que o sentimento mora. A letra fala de um homem que “ama a liberdade” e “deixa seu coração em Ventura Boulevard”, um verso que poderia ser grafite, oração ou despedida. No fundo, ele sabe que cair é o preço de não pertencer a ninguém.
Mais de três décadas depois, a canção continua pairando acima das modas, das tendências e dos algoritmos. Há nela uma beleza serena, quase zen, que faz o ouvinte lembrar que a queda livre também é uma forma de voo. É uma faixa que não envelhece porque não promete pouso: apenas o vento, a estrada e o som de um homem tentando entender o que significa ser livre, e o quanto isso pode doer.