O Spotify viu os audiobooks virarem seu novo motor de tração. Dados de um relatório interno obtidos pela Bloomberg indicam que, no último ano, o número de pessoas que ouviram pelo menos um audiobook cresceu 36%, enquanto o tempo total de escuta avançou 37% — ambos acima do ritmo da base geral de usuários, que subiu 11% e atingiu 696 milhões de ouvintes ativos mensais.
O movimento acendeu alertas na indústria fonográfica, que teme perda de espaço para a “prosa falada”. Por enquanto, porém, o caixa da música segue robusto: o Spotify pagou US$ 10 bilhões em royalties em 2024, alta de 11% ante 2023.
O que está por trás da arrancada
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Paywall inteligente: no Premium, a plataforma incluiu 15 horas mensais de audiolivros, o suficiente para “degustação” de best-sellers e contos — e para criar hábito.
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Perfil etário: a maioria dos ouvintes tem menos de 35 anos, com destaque para livros infantis e contos curtos, formatos que cabem em rotinas picotadas.
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Descoberta por fricção zero: quem já está no app para música ou podcasts encontra livros no mesmo feed, sem mudar de ecossistema.
“Eles estão alcançando pessoas que não vão às livrarias com frequência”, disse Amanda D’Acierno, executiva da Penguin Random House, à Bloomberg — um resumo do ganho imediato para editoras e autores.
E a música, perde?
Ainda não. O consumo de canções continua sustentado por playlists algorítmicas e ao vivo; além disso, os royalties pagos cresceram. O risco está menos em “roubar tempo” e mais em reorganizar a atenção: audiobooks disputam o slot dos podcasts narrativos e das rádios de fundo (dirigir, cozinhar, academia).
Por que importa
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Para editoras: canal de aquisição de novos leitores (ouvintes) com Custo de Aquisição menor e dados de retenção em tempo real.
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Para artistas e gravadoras: necessidade de formatos híbridos (faixas comentadas, liner notes em áudio, storytelling entre EPs) para competir por sessões longas.
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Para o Spotify: fortalece a tese de super app de áudio, com cesta diversificada (música + podcasts + livros) que dilui risco e aumenta permanência.
Sinais para ficar de olho
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Conversão das 15 horas em upsell (quem estoura o limite paga mais?).
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Exclusividades editoriais e autores “nativos de áudio”.
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Modelos de remuneração: como equilibrar repartição entre música, podcasts e livros num mesmo bolo de assinatura.
Em uma linha: os audiobooks deixaram de ser apêndice e viraram pilar no Spotify. Se a música é a porta de entrada, o livro em áudio está se tornando a sala de estar, onde o ouvinte se acomoda e passa mais tempo.