Era 20 de outubro de 1980. O mundo ainda respirava a ressaca do punk e ensaiava o brilho sombrio da new wave. No cinema, “O Iluminado”, de Kubrick, e “O Império Contra-Ataca” mostravam que o medo e a fantasia podiam caminhar lado a lado. No Reino Unido, Margaret Thatcher impunha austeridade; nas ruas de Dublin, jovens olhavam o futuro com incerteza. E foi desse caldo de inquietação e fé que nasceu “Boy”, o primeiro álbum do U2, um disco sobre crescer em meio ao ruído.
Produzido por Steve Lillywhite, o álbum é um retrato cru da adolescência como encruzilhada, um território de descobertas, medo e desejo de transcendência. Bono, The Edge, Adam Clayton e Larry Mullen Jr. tinham pouco mais de 20 anos, e cantavam como quem tentava entender o mundo antes que o mundo os entendesse. Faixas como “I Will Follow”, “Out of Control” e “Stories for Boys” soam como hinos de urgência juvenil, impulsionadas por guitarras que parecem buscar o céu e batidas que não permitem descanso.
“Boy” é um álbum sobre inocência, mas de uma castidade consciente da própria perda. A capa, com o rosto de um garoto em olhar suspenso, traduz esse estado liminar entre a infância e a desilusão. Em um planeta dividido pela Guerra Fria, com o pós-punk substituindo o idealismo hippie por introspecção e aço, o U2 surge como voz de esperança e rebeldia espiritual.
Quarenta e cinco anos depois, o disco ainda pulsa como manifesto de quem ousou sonhar, e gritar, antes de se tornar gigante. “Boy” não é só o início de uma banda lendária. É o som de um tempo em que ser jovem ainda era, sobretudo, um ato de resistência.
Faixas essenciais: “I Will Follow”, “Out of Control”, “The Electric Co.”, “Stories for Boys”.
️Filmes que dominavam o cinema na época: O Iluminado, Touro Indomável, O Império Contra-Ataca, Kagemusha.
Lançado em: 20 de outubro de 1980 (Island Records).