“Nine in the Afternoon” é o tipo de música que soa como um delírio ensolarado depois de uma ressaca emocional. Quando o Panic! At The Disco lançou o single em 2008, parecia dizer ao mundo que havia vida após o caos barroco de A Fever You Can’t Sweat Out. Era psicodelia pop em plena era do MySpace, uma canção que girava entre o nonsense e o encantamento, com arranjos que piscavam para o Sgt. Pepper’s dos Beatles e letras que brincavam com o surrealismo adolescente. Aquele em que o tempo derrete e tudo parece possível.
Brendon Urie surge como um maestro de sentimentos deslocados, conduzindo metais, palmas e euforias com a energia de quem acaba de descobrir o que é existir. “Back to the street where we began”, canta, como se o retorno às origens fosse um gesto de libertação, e não de nostalgia. O clima é de carnaval psicodélico, uma tarde que não termina nunca, um domingo de febre e sonhos lúcidos embalado por melodias em Technicolor.
Revisitada hoje, “Nine in the Afternoon” parece um retrato perfeito do fim da inocência millennial. Colorida, teatral, ingênua e levemente melancólica. É o som de uma banda que aprendeu a rir de si mesma, transformando o drama em espetáculo e o tédio em refrão. Um conto para quem ainda acredita que recomeçar pode ser um ato de pura arte, mesmo quando o relógio marca nove da tarde.