Em 27 de outubro de 2013, o rock perdeu um de seus espíritos mais inquietos e originais. Lou Reed, o criador do Velvet Underground e um dos nomes mais influentes da música do século XX, morreu aos 71 anos, deixando um legado que moldou não apenas o som, mas também a atitude do rock moderno.
Do experimentalismo ruidoso às confissões cruas de suas letras, Reed foi um artista que nunca buscou agradar, e é justamente por isso que permanece eterno.
O poeta das sombras
Lou Reed enxergava beleza naquilo que a sociedade insistia em esconder. Com uma escrita que misturava poesia beat, realismo urbano e ironia existencial, ele transformou temas como drogas, marginalidade, amor e solidão em arte. Sua caneta afiava retratos de Nova York como se fossem crônicas de sobrevivência. Músicas como "Sweet Jane" “Heroin”, “I’m Waiting for the Man” e “Perfect Day” são ao mesmo tempo brutais e líricas, confessionais e distantes, sujas e sublimes.
O som que abriu caminho
Ao lado de John Cale, Sterling Morrison e Maureen Tucker, Lou Reed fundou o Velvet Underground, banda que não vendeu milhões, mas inspirou gerações inteiras. Produzido sob a tutela de Andy Warhol, o grupo foi o esqueleto sonoro da contracultura nova-iorquina dos anos 1960. Seu disco de estreia, The Velvet Underground & Nico (1967), com a emblemática banana na capa, é um divisor de águas: minimalista, dissonante e provocador, plantou a semente do punk, do glam, do indie e do art rock.

Da rebeldia à contemplação
Depois do Velvet, Reed construiu uma carreira solo de altos e baixos, mas sempre coerente com sua visão artística. De Transformer (1972), com o hino “Walk on the Wild Side”, à obra sombria Berlin (1973), Reed transitou entre o deboche e o desespero, entre o caos elétrico e o silêncio contemplativo. Sua parceria com David Bowie e Mick Ronson ajudou a expandir o vocabulário do rock para além das convenções de gênero e estética.
Um ícone para sempre alternativo
Lou Reed não foi um herói convencional. Foi o artista que ensinou que o rock podia ser literário, incômodo, cru e verdadeiro. Do punk ao pós-rock, do indie ao alternativo, quase toda banda que nasceu do inconformismo carrega um pouco de sua sombra.
Doze anos depois, ainda ecoa a pergunta silenciosa que Reed parecia fazer a cada verso: o que é ser livre dentro do ruído?
Talvez a resposta esteja em sua própria voz, seca, cortante e eterna.
“Há um pouco de magia em tudo, e alguma perda para equilibrar as coisas.” – Lou Reed