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Lily Allen, versão 2025: um inventário sem filtros do amor que ruiu
Em West End Girl, seu primeiro álbum desde No Shame (2018), a inglesa transforma o colapso doméstico em dramaturgia pop.
Por LockDJ
Publicado em 28/10/2025 10:32 • Atualizado 28/10/2025 10:32
Música
Lily lançou um disco coeso, cruelmente honesto e musicalmente expansivo (Foto: Divulgação)

Desde que irrompeu na blogosfera indie, Lily Allen fez da voz, um soprano leve, capaz de soar doce e ferino na mesma respiração, o centro gravitacional da sua obra. Em West End Girl (2025), ela volta ao estúdio para lapidar esse timbre e contar, sem eufemismos, a travessia de um casamento falido com David Harbour, ator da série 'Stranger Things', da promessa à implosão. O resultado é um disco coeso, cruelmente honesto e musicalmente expansivo.

 

Um roteiro íntimo em forma de álbum

West End Girl funciona como narrativa contínua. A faixa-título abre como uma sequência de filme de terror: cordas que desmaiam em crescendo, arranjos elegantes e uma letra que começa celebrando a “domesticidade de alto padrão” para, em minutos, afundar no lodo de um ego masculino ferido. O parceiro manipula, gaslighta, questiona o talento dela como atriz, e solta uma bomba não dita, mas que esmaga o chão da protagonista.

Na sequência, “Ruminating” desloca essa revelação para a pista: sobre uma batida two-step tensa, a voz de Allen é distorcida como quem tenta raciocinar em um clube que nunca fecha. O pedido do parceiro (abrir o casamento) vira loop mental, um mantra ansioso que não dá trégua.

Estilo a serviço do golpe emocional


Allen sempre brincou de atravessar gêneros; aqui, essa vocação vira ferramenta dramática.

  • “4chan Stan” é um synthpop “fofo” por fora e devastador por dentro — um retrato de meia-idade tóxica embalado no som com o qual o próprio personagem teria crescido. A leveza melódica potencializa farpas como “You love all the power / But you’re not even cute”.

  • Em “Tennis”, o brilho à la Wall of Sound estilhaça quando surge a pergunta que muda tudo: “And who’s Madeline?”. Repetida, fragmentada, ela vira refrão de “da-da-da” que cola na mente — e no enredo de dissolução.

  • “Beg For Me” mergulha no vexame pós-queda com uma citação engenhosa: uma versão ralentada de “Never Leave You (Uh Oooh, Uh Oooh)”, da Lumidee, tremula ao fundo como fantasma de um compromisso que nunca veio.

Dez dias de catarse

Em entrevistas, Allen conta que escreveu o álbum em dez dias, depois de se obrigar a sair de um estado depressivo e voltar ao estúdio. A urgência atravessa tudo: canções curtas, sem gordura; refrões que parecem páginas arrancadas de diário; um senso de “agora ou nunca” que dá liga ao conjunto.

Fecho de ciclo — e de persona


A potente e resignada “Fruityloop” encerra o disco com uma linha-guia que mira o passado: “it’s not me, it’s

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