Em 1990, o então desconhecido Vanilla Ice lançou Ice Ice Baby e fez história. Foi o primeiro rap a chegar ao topo da Billboard Hot 100. O feito foi tão inédito quanto controverso. Bastaram alguns segundos de audição para que fãs do rock reconhecessem o riff de baixo idêntico ao de “Under Pressure” (1981), clássico gravado por Queen e David Bowie. O sucesso estrondoso logo se transformou em um caso emblemático de violação de direitos autorais.
O som que veio do gelo
A base de Ice Ice Baby era irresistível, uma fusão de hip-hop dançante com um groove familiar demais. Vanilla Ice chegou a afirmar que seu riff “tinha uma nota diferente”, tentando minimizar a semelhança. Mas a justificativa soou tão frágil quanto o gelo sob o sol do mainstream. As editoras musicais de Queen e Bowie não hesitaram em agir, e o caso foi resolvido extrajudicialmente: os dois ícones britânicos passaram a ser creditados como coautores e a receber royalties pelo hit.
A disputa e o acordo
A tentativa inicial de negação do rapper só aumentou o escrutínio. Pressionado por evidências e pela opinião pública, Vanilla Ice aceitou o acordo. Décadas depois, ele chegou a afirmar que havia “comprado os direitos de Under Pressure”, o que o Queen negou, esclarecendo que apenas houve compartilhamento da publicação, não cessão dos direitos originais.
O legado de um erro sonoro
Apesar da polêmica, Ice Ice Baby se tornou um divisor de águas. Mostrou que o rap podia dominar as paradas de sucesso e ser consumido por um público global, algo impensável até então. Ao mesmo tempo, o episódio se consolidou como um marco na história dos direitos autorais, reforçando os limites entre homenagem e apropriação.
Hoje, 35 anos depois, é impossível ouvir aquele riff inconfundível sem sentir o eco de Under Pressure e Ice Ice Baby, que, entre tensão e ritmo, definiram uma era onde o pop, o rock e o hip-hop finalmente se cruzaram no mesmo compasso.