Em 4 de novembro de 1970, David Bowie lançava nos Estados Unidos um álbum que, à época, soou como um estranho ruído entre o folk psicodélico dos anos 60 e o rock pesado que se aproximava dos 70. The Man Who Sold The World foi o nascimento simbólico do Bowie camaleônico, o artista que desconstruiria gênero, imagem e som em uma estética tão ousada quanto profética.
O disco é sombrio, elétrico, carregado de guitarras cortantes de Mick Ronson e atmosferas quase paranoicas, antecipando o que o glam rock e o art rock se tornariam poucos anos depois. Bowie fala de loucura, alienação e autopercepção, especialmente na faixa-título, um diálogo entre o “eu” e o “outro”, talvez a primeira confissão pública de sua própria fragmentação artística.
“We passed upon the stair / We spoke of was and when” soa como uma conversa entre duas versões do mesmo homem.
Décadas depois, em 1993, o Nirvana resgataria a canção em seu MTV Unplugged in New York. Na voz cansada e vulnerável de Kurt Cobain, “The Man Who Sold The World” ganhou outro corpo, menos teatral, mais humano.
Bowie havia criado uma peça sobre identidade fluida, e Cobain transformou-a em epitáfio existencial. O diálogo entre os dois se completou ali, como se o homem que vendeu o mundo finalmente tivesse encontrado quem o comprou.
⭐️⭐️⭐️⭐️⭐️ (5/5)
Um disco que atravessou décadas, redefiniu o rock e continua ecoando entre quem busca sentido nas sombras e na beleza do caos.