️Lançada em 1983, Every Breath You Take nasceu do paradoxo perfeito. É uma balada que soa romântica, mas fala sobre controle e vigilância. Com sua estrutura minimalista e o baixo hipnótico de Sting, a faixa desliza como um sussurro melancólico pelas frestas da alma. Doce, mas letal, e desliza entre o som etéreo do pós-punk e o verniz pop dos anos 80. A suavidade da melodia mascara uma possessividade quase doentia, transformando o amor em cárcere, e o afeto, em posse.
Há algo de fantasmagórico em como o The Police equilibra a leveza sonora com a densidade emocional do tema. Andy Summers cria, na guitarra, um cenário nebuloso e elegante, enquanto Stewart Copeland conduz a batida com precisão quase clínica. Tudo parece calmo, mas é uma calmaria de quem observa, e nunca deixa de observar. A música se move como uma sombra que não se pode afastar, mesmo à luz do dia.
Décadas depois, Every Breath You Take continua sendo um dos paradoxos mais fascinantes da música pop. Ainda hoje é tocada em casamentos, usada em trilhas de amor, e, ironicamente, foi escrita no auge de um divórcio. Sting a concebeu entre ruínas afetivas, e talvez por isso soe tão real. Uma lembrança de que o amor, às vezes, é menos sobre presença e mais sobre o medo da ausência.