Quando o enredo de A Bruxa de Blair coloca três jovens desaparecendo em uma floresta sombria e desconhecida, o que vemos vai além do terror. É a construção de um mito que se alimenta de silêncio, vegetação fechada e recortes de vídeo tremulos. Agora, imagine esse cenário projetado para a vida real: É aí que se encontra Dudleytown, no seio da Floresta de Dark Entry, em Cornwall, Connecticut.
Fundada nos anos 1740, Dudleytown foi abandonada ao longo de décadas de desastres, doenças e eventos misteriosos. O que restou é uma aldeia fantasma cercada de narrativas de maldição, aparições e sanidade que se desfaz. Um dos relatos mais chocantes ocorreu após a chegada de um novo morador, e seis de seus parentes morreram de cólera em sequência. Posteriormente, um trabalhador que dizia ver “criaturas nas sombras” também caiu morto. A vila esvaziou por volta de 1900.
Esses relatos ecoam a estrutura narrativa de “found footage” de A bruxa de Blair, com jovens explorando território hostil, câmeras captando algo que não deveria estar lá, e o desaparecimento como desfecho. O filme, disponível para assinatura na plataforma Lionsgate e aluguel na Prime Vídeo, em diversos países, mostra justamente essa sensação: floresta que engole, lendas que se projetam e a dúvida entre o natural e o sobrenatural.

Vale observar:
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Forma e espaço: A floresta, o abandono, os sinais. Tanto no filme quanto em Dudleytown, o ambiente se torna personagem.
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Lenda que prolifera: Em Dudleytown, a suposta decapitação de um ancestral dos Dudley na Inglaterra virou semente de maldição. No filme, a lenda da “Bruxa de Blair” se espalhou pela universidade antes de os jovens adentrarem os bosques.
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Turismo e transgressão: A vila fantasma virou destino de “caçadores de assombração”; o filme inspirou movimentos similares e o gosto por visitar locais proibidos virou cultura.
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Medo como linguagem cultural: O que ambos os casos oferecem é menos o monstro visível e mais o invisível — o que está fora do campo de visão, o que escuta no escuro, o que não consegue explicar.
Se você é leitor ou leitora de cultura pop, cinema de horror ou turismo alternativo, Dudleytown oferece não só o pano de fundo para uma história real, mas também um espelho para o que vemos e sentimos quando apertamos “play” em uma noite escura, no streaming ou não. O medo compartilhado e o silêncio depois da última luz.
Dica de sessão dupla:
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Assista a A Bruxa de Blair e repare na tensão crescente, nas câmeras artesanais, na floresta que parece viva.
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Depois, leia sobre Dudleytown e veja as fotos das ruínas, os relatos dos visitantes, as trilhas fechadas.
A junção desses dois universos abre o debate sobre quanto da assombração é real e quanto é construção cultural, e, talvez, sobre por que temos fascínio por locais que parecem nos rejeitar.
Importante: A visitação a Dudleytown é proibida, por se tratar de propriedade privada. O mistério permanece intacto também pela impossibilidade de certo acesso, o que, de certa forma, reforça o simbolismo.