“Spaceman” é a faixa em que o 4 Non Blondes parecem abandonar o chão firme para vagar por uma órbita própria. Um espaço onde guitarras desgrenhadas, vozes rasgadas e espiritualidade torta se misturam num transe improvável. Linda Perry canta como quem tenta decifrar mensagens interestelares com a sensibilidade de quem não se encaixa nem na Terra nem em lugar nenhum. É uma viagem elétrica, guiada por perguntas sem resposta.
A música tem aquele ar de manifesto outsider. Tudo parece vibrar no limite entre o caos e a epifania. O riff meio sujo, meio ritualístico, empurra a canção para um território que lembra uma jam de garagem perdida no universo. A banda cria uma atmosfera que é ao mesmo tempo estranha, libertadora e profundamente humana, como se reconhecer o próprio desalinho fosse o primeiro passo para flutuar.
E, no fundo, “Spaceman” funciona como um lembrete bem punk da condição humana. Estamos todos tentando entender sinais, traduzir sentimentos, sobreviver a ruídos internos e externos. É sobre ser estrangeiro no próprio planeta, mas continuar dançando no vácuo. Aquele tipo de música que abraça a esquisitice com glitter, distorção e uma honestidade que o 4 Non Blondes conseguiu entregar com muita propriedade.
