O novo filme de José Eduardo Belmonte, Quase Deserto (Almost Deserted), desembarca nos cinemas brasileiros no dia 27 de novembro carregando o peso de duas estreias de prestígio: a Première Brasil do Festival do Rio 2025 e a 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, onde foi recebido como uma das produções nacionais mais ousadas do ano.
Gravado inteiramente em Detroit, nos Estados Unidos, o longa é uma coprodução internacional que reúne no elenco nomes como Angela Sarafyan (Westworld), Daniel Hendler (O Abraço Partido) e Vinícius de Oliveira (Central do Brasil).
Um noir distorcido em meio às ruínas de Detroit
Belmonte define o filme como um “noir distorcido”, e a expressão faz jus ao clima que atravessa toda a obra. A narrativa acompanha dois imigrantes latinos sem documentos e uma mulher americana que, por acaso, testemunham um assassinato em uma Detroit pós-pandemia. Uma cidade quase fantasmagórica, esvaziada e marcada pelo colapso econômico.
A partir desse encontro improvável, o trio embarca em uma jornada de fuga, improviso e reinvenção, tentando sobreviver entre ruínas, segredos e reconstruções falsas, como se a cidade inteira fosse um grande cenário de ilusões quebradas.
O início de uma nova fase para Belmonte
Mais do que um novo título em sua filmografia, Quase Deserto marca o início de uma virada criativa na trajetória de Belmonte. O diretor aposta na construção de um modelo de coprodução internacional, aproximando realizadores de diferentes países em torno de histórias brasileiras ou inspiradas no Brasil contemporâneo.
A proposta é olhar para o país “a partir de fora”, em uma perspectiva que, segundo ele, aprofunda leituras sobre identidade, conflitos internos, ironias latino-americanas e até o isolamento histórico do Brasil em relação aos vizinhos.
“Uma das formas de falar do Brasil é colocar o país em outra situação, de fora. Porque você entende muito mais o Brasil quando está fora dele. O filme tem isso: expandir as fronteiras e indicar um modelo de união entre os países.”
— José Eduardo Belmonte
Uma produção trilíngue e continental
Falado em português, espanhol e inglês, o filme é produzido por Rodrigo Sarti Werthein e Rune Tavares, com assinatura da ACERE. A coprodução envolve ainda a We Are Films (Nova Iorque), Filmes do Impossível e Paramount Pictures, consolidando uma rede criativa que ultrapassa fronteiras.
O roteiro é assinado pelo próprio Belmonte, ao lado de Carlos Marcelo e Pablo Stoll (Whisky), imprimindo ao filme uma mistura de humor ácido, tensão e olhar deslocado — características que atravessam a obra.
Sinopse oficial
Em uma Detroit pós-pandemia, esvaziada e politicamente fraturada durante a eleição entre Trump e Biden, dois imigrantes latinos sem documentos testemunham um assassinato e, por impulso, resgatam a única testemunha: uma mulher americana que vive com uma rara síndrome que compromete sua sociabilidade e lhe dá olhos de criança, capazes de enxergar o que ninguém mais percebe.
A partir daí, essa tríade improvável inicia uma jornada em busca de fuga e recomeço. Mas em uma cidade cheia de ruínas, segredos e falsas reconstruções, nada, nem o crime, nem a cidade, nem os próprios personagens, é o que parece ser. Quase Deserto é um thriller que brinca com o absurdo, o deslocamento e a vontade de pertencimento em meio ao colapso.
Elenco
Angela Sarafyan, Vinícius de Oliveira, Daniel Hendler, Alessandra Negrini, Deborah Chenault-Green, Thais Gulin, Virgínia Lombardo.