Em What's the Frequency, Kenneth?, o R.E.M. troca a melancolia difusa dos anos 80 por um choque direto de guitarras e desorientação. A música abre Monster como um aviso: algo saiu do eixo, a comunicação falhou, e ninguém parece falar a mesma língua. Não há conforto aqui, só tensão, sarcasmo e um riff que avança como notícia ruim em tempo real.

Inspirada em um episódio real de violência contra um jornalista, a faixa transforma o absurdo em metáfora. A pergunta do título não busca resposta, ela expõe o colapso da mediação, da linguagem e da confiança. Michael Stipe canta como quem tenta sintonizar um rádio quebrado em meio ao caos informacional, antecipando um mundo saturado de vozes, mas vazio de escuta.

Trinta anos depois, a música soa menos como registro de época e mais como diagnóstico contínuo. What’s the Frequency, Kenneth? é sobre estar cercado de sinais e ainda assim não entender nada. Um rock nervoso para tempos em que todo mundo fala, e quase ninguém se conecta.