Brasília não ganhou o título de "Capital do Rock" por acaso. No fim dos anos 70 e início da década de 80, a capital federal se tornou um celeiro de bandas, que brotavam alucinadamente em cada esquina da cidade. Foi então que surgiu a lendária "Turma da Colina", formada grupo de jovens que se reuniam em uma área habitacional da UnB, apelidada de Colina, para se divertir e ouvir rock'n roll.
Considerado um dos primeiros movimentos culturais de Brasília, a Turma da Colina gerou bandas como Abordo Elétrico - embrião da Legião Urbana -, Capital Inicial e Plebe Rude.
Philippe Seabra, líder da Plebe Rude, recorda daquela época como um tempo estranho, em que os jovens tinham a idade da cidade onde moravam. O pesquisador João Carlos Amador, autor da série de livros “Histórias de Brasília”, conta como surgiu o rock brasiliense.
João Carlos destaca que essas primeiras bandas não tinham nem mesmo a estrutura mínima para trabalhar.
"Mas, quem é da música, sabe que para a cena se desenvolver, é preciso ter um lugar onde as pessoas se encontrem. E é lá também onde o público vai procurar o que ouvir. Nos anos 70, surgiu esse lugar em Brasília. Era a Colina, um conjunto de prédios usados por professores e estudantes de pós-graduação da UnB, a Universidade de Brasília. Fica na Asa Norte, no local onde seria a quadra 812", detalha.
No documentário “Rock Brasília: Era de Ouro”, do cineasta Vladimir Carvalho, o músico André Mueller, baixista da Plebe Rude, deu mais detalhes do que é a Colina e como a convivência no local ajudou a organizar a cena.
Aborto Elétrico e a explosão do rock brazuca
Dentro desse contexto, o punk foi, literalmente, apresentado para aqueles jovens, que tinha um integrante insueto, chamado André Pretorius, filho do embaixador da África do Sul.
Pretorius, também conhecido como o "Sid Vicious louro", trazia consigo uma vasta bagagem cultural e política. Em uma de suas viagens à Europa, trouxe vários discos de punk rock daquele período, e virou logo referência da turma, que tinha como "guru" o cantor Renato Russo.
André foi, além de tudo, um dos primeiros parceiros musicais de Renato Russo. Em 1978 ao lado de Renato, Fê e Flavio Lemos, criaram o Aborto Elétrico, banda que revolucionou o rock brasileiro.
Chegou um dia em que André Pretorius precisou deixar a banda, porque se mudou com a família para a África do Sul, e quem assumiu o baixo e os vocais foi Renato Russo.
A banda, logo depois, acabou se desfazendo por causa de brigas entre Renato e Fê Lemos (baterista) e por seus sentimentos mal resolvidos por Flavio Lemos (guitarrista).
Após ter passado um tempo como o “Trovador Solitário” – que nessa época apresentava músicas mais acústicas como ‘Faroeste Caboclo’, ‘Eu sei’ e ‘Eduardo e Mônica’ em shows punk, Renato Russo se juntou a Marcelo Bonfá, Renato Rocha e Dado Vila Lobos para criar a Legião Urbana.
Fê Lemos e o irmão Flávio fundaram o Capital Inicial com Loro Jones e Dinho Ouro Preto.
Além do Aborto Elétrico, que se desmembrou gerando a Legião Urbana e Capital Inicial, desses encontros surgiram também a Plebe Rude e a XXX.
Influência da Legião Urbana
Maurício Ângelo, crítico musical de BH, ressalta a influência da Legião Urbana nesse cenário: “A Legião foi a maior banda da sua época e mesmo dos anos 90. Talvez não a primeira em termos de vendagens, mas sem dúvida uma das principais em influenciar toda uma geração”, disse.
“No início, todos eram muito influenciados pelo punk e post-punk da época, seja pela vertente inglesa ou americana (Sex Pistols, Ramones, Clash, etc). Com o passar do tempo, especialmente o Legião Urbana bebeu muito na fonte do pós-punk, tendendo mais para algo The Smiths e depois bastante de New Wave”, completa Maurício.
Surgiram, então, além da Legião Urbana, bandas como Paralamas, Plebe Rude, Capital Inicial e mais um bando de sonhadores que se espalhou pelo País tocando nos mais diversos lugares da cena underground.
“Essas bandas surgiram numa época de enorme amadurecimento do mercado brasileiro. A década de 80 foi quando a música do país começou a tomar contornos mais profissionais”, diz Maurício.
Nesse período, o Paralamas do Sucesso já era uma realidade, mas em Brasília Plebe Rude, Capital, Legião, eram bandas underground que se apresentavam em festas universitárias.
O movimento ganhou força e com uma ajudinha de Herbert Vianna (Paralamas), que era primo de um repórter da revista pop Pipoca Moderna. A turma de Brasília ganhou visibilidade nacional e, em pouco tempo, o Brasil todo curtia as músicas que nasceram no início dos anos 80 no Planalto Central.
“Precisamos lembrar que os anos 80 também marcam a transição da ditadura para a abertura democrática, que teve impacto decisivo em toda essa história”, completa Maurício.
Assista o documentário "Rock Brasília - Era de Ouro", na íntegra.
Rádio VB / Agência Brasil e Toca Uma Pra mim