Começa mais uma edição do Festival de Cannes, e com ela, o ritual que inaugura o calendário cinéfilo mundial. De 13 a 24 de maio, a cidade da Riviera Francesa transforma-se, como sempre, no epicentro de debates estéticos, apostas de premiações e revelações autorais.
Mais do que uma vitrine de filmes, Cannes é o lugar onde o futuro do cinema se antecipa.
Depois de impulsionar nomes como Emilia Pérez, O Aprendiz e o oscarizado Anora em 2024, o festival mira agora 2025 com uma safra que cruza continentes, estéticas e narrativas. E desta vez, o Brasil não vem como coadjuvante. Walter Salles abriu caminho, e agora Kleber Mendonça Filho assume a missão de manter o fôlego com O Agente Secreto, que estreia na competição oficial com Wagner Moura à frente de um elenco afinado.
Entre política, memória e distopia: o que Cannes oferece este ano
A seleção oficial de 2025 parece equilibrar memória cinematográfica, crítica social e uma inquietação estética de destaque. Nouvelle Vague, de Richard Linklater, revisita as filmagens de Acossado, enquanto The History of Sound, de Oliver Hermanus, mergulha em registros sonoros da Primeira Guerra. O iraniano Jafar Panahi, como de costume, se mantém enigmático com Un Simple Accident — filme sem sinopse divulgada, mas já carregado de expectativas por seu histórico de resistência e crítica ao regime de seu país.
Lynne Ramsay, discreta e intensa, retorna com Die, My Love, estrelado por Jennifer Lawrence e Robert Pattinson, explorando os fantasmas da maternidade. Já Julia Ducournau, vencedora da Palma com Titane, apresenta Alpha, promessa de um novo mergulho no horror corporal e nos vínculos familiares despedaçados.

Jennifer Lawrence é destaque em 'Die, My Love' (Foto: Divulgação)
Há também espaço para biografias intensas (Fuori, sobre Goliarda Sapienza), dramas familiares (Sentimental Value, de Joachim Trier), e um curioso retorno de Wes Anderson com O Esquema Fenício — sua excentricidade visual posta a serviço de uma narrativa de espionagem e legado familiar.
Cannes fala português: o Brasil em foco
A presença brasileira se afirma com O Agente Secreto, uma narrativa que mistura paranoia tecnológica e reencontro com as raízes, dirigida por um cineasta que já tem uma relação sólida com Cannes. Kleber Mendonça Filho, após o sucesso de Bacurau, retorna à mostra principal com Wagner Moura como protagonista de uma história ambientada na década de 1970, em Recife.

Wagner Moura em cena do filme O Agente Secreto (Foto: Divulgação)
O filme chega em um ano em que o Brasil é homenageado na programação de mercado do festival.
Com um elenco estrelado e um histórico de recepção calorosa no evento, o filme pode encontrar espaço entre os premiados, ainda mais diante do prestígio crescente do cinema latino-americano na cena global.
O júri e a reverência a De Niro
Juliette Binoche preside o júri que conta ainda com Halle Berry, Jeremy Strong e Alba Rohrwacher. Um corpo plural que pode favorecer obras que mesclem inovação formal e densidade temática. E como já virou tradição, Cannes presta homenagem a um ícone do cinema. Este ano, quem recebe a Palma de Ouro honorária é Robert De Niro — num gesto simbólico de reconhecimento à força de sua trajetória e contribuição à história da sétima arte.
Panorama e apostas
Entre os nomes recorrentes, como os irmãos Dardenne (Jeunes Mères) e Ari Aster (Eddington), e os novos olhares, como Chie Hayakawa (Renoir) e Mascha Schilinski (Sound of Falling), o festival deste ano parece buscar equilíbrio entre tradição e descoberta. Produções como La petite dernière e Les Aigles de la République prometem tensionar discussões culturais contemporâneas, e Resurrection, de Bi Gan, fecha a lista com um flerte com a ficção científica poética.

Joaqui Phoenix e Pedro Pascal em cena do filme 'Eddington', de Ari Aster (Foto: Divulgação)
Cannes segue como um termômetro. Um palco onde se projetam futuros possíveis — do Oscar à reconfiguração do que entendemos como cinema relevante. E se depender da força e da diversidade da seleção deste ano, 2025 será uma temporada que começa intensa desde já.
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