O dia 3 de julho ocupa um lugar peculiar e melancólico na memória do rock. Em diferentes décadas, essa mesma data marcou o fim abrupto — simbólico ou literal — de trajetórias ligadas ao universo do rock alternativo, psicodélico e pós-punk. Um alinhamento desconcertante de perdas que, ao longo do tempo, consolidou o momento como um dia de luto no calendário da música.
Foi em 1969 que Brian Jones, guitarrista e fundador dos Rolling Stones, foi encontrado morto, aos 27 anos (a idade da maldição) na piscina de sua casa, em Sussex, antiga residência do escritor A. A. Milne, criador do Ursinho Pooh, que o músico adorava.
Ícone da contracultura e um dos maiores talentos experimentais do rock britânico, Jones representava tanto o gênio quanto a instabilidade de uma geração que expandia os limites da criação musical — e pessoal — a níveis irreversíveis.
Dois anos depois, o mundo perdia Jim Morrison. O vocalista do The Doors foi encontrado morto na banheira de seu apartamento em Paris, aos 27 anos (a maldição voltava à cena).
Morrison encerrava, sem aviso, o ciclo de excessos, poesia e provocação que marcou sua curta vida artística. Ele se somaria a um clube imaginário de jovens músicos mortos prematuramente, moldando o imaginário coletivo sobre os perigos e mitologias do estrelato no rock.
Décadas mais tarde, em 1999, Mark Sandman, da banda Morphine, tombaria diante de uma plateia na Itália, vítima de um infarto fulminante durante uma apresentação, aos 46 anos.
O som minimalista e denso de seu power trio, construído com baixo de duas cordas e sax barítono, paralisou de vez naquela noite — perpetuando a data como marca de uma interrupção brutal da criatividade.
O 3 de julho ainda guarda outras feridas para o universo do rock. Em 2011, morria Victor Villarreal, vocalista da banda underground One of Sixx, e, em 2014, falecia Annik Honoré, figura quase espectral na história do Joy Division. Jornalista e curadora, foi amante de Ian Curtis, e sua morte, ainda que discretamente noticiada, ecoa como epílogo de um amor trágico que alimenta o imaginário do pós-punk desde os anos 1980.
Até mesmo uma ausência simbólica reverbera nesse dia: em 3 de julho de 1995, Courtney Love — viúva de Kurt Cobain — enfrentava obstáculos para sepultar os últimos restos mortais do ex-líder do Nirvana.
Um ritual fúnebre incompleto, no mesmo dia que se transformava, ano após ano, num memorial involuntário do colapso emocional e físico que parece acompanhar a história do rock.
O que torna o 3 de julho tão recorrente nesse tipo de narrativa permanece sem resposta definitiva. Mas a coincidência de datas forma um quadro fúnebre no qual o rock, mais do que expressão artística, parece assumir contornos de tragédia clássica — onde o destino, a rebeldia e o abismo caminham lado a lado.