Nascido em 4 de Julho: a fratura exposta do patriotismo norte-americano
Baseado na autobiografia de Ron Kovic, o filme acompanha a jornada de um jovem idealista que se alista voluntariamente para lutar no Vietnã.
Por LockDJ
Publicado em 04/07/2025 06:00
Entretenimento
Tom Cruise interpreta o veterano Ron Kovic (Foto: Reprodução)

Em toda celebração do 4 de julho, data simbólica da independência dos Estados Unidos, reaparece também a outra face do discurso nacionalista: o corpo ferido que retorna da guerra. Nascido em 4 de Julho (1989), dirigido por Oliver Stone, parte desse lugar de celebração para desmontá-lo, camada por camada.

 

Baseado na autobiografia de Ron Kovic, o filme acompanha a jornada de um jovem idealista que se alista voluntariamente para lutar no Vietnã, acreditando cumprir um dever com a pátria. Ao retornar paraplégico e desiludido, confronta o abismo entre o ideal americano de heroísmo e a realidade da negligência com os veteranos.

 

Kovic, interpretado por Tom Cruise, vive a ruína física e assiste à dissolução de sua fé no país. A narrativa acompanha sua lenta e dolorosa transformação: de patriota fervoroso a ativista contra a guerra. O 4 de julho, dia de sua certidão de nascimento e da declaração de independência dos Estados Unidos, torna-se para ele um paradoxo. Em vez de liberdade, vive a condição do corpo imobilizado, excluído do sonho que jurou defender.

 

Ao longo do filme, Stone contrapõe duas imagens centrais do imaginário americano: a bandeira e a cadeira de rodas. Entre elas, percorre-se um caminho no qual o discurso de liberdade colide com a estrutura militar, a repressão social e o silenciamento dos traumas.

 

A cada cena, Nascido em 4 de Julho reencena a pergunta silenciosa que atravessa todas as guerras: o que resta quando o retorno não é uma festa, mas uma ausência de lugar?

 

Assistir ao filme em plena celebração da independência americana é atravessar uma linha tênue entre orgulho e fratura. O título já carrega o conflito: nascer em 4 de julho é, no caso de Kovic, nascer para o confronto com a nação que o formou, o enviou e depois o esqueceu.

 

É uma história que não se encerra com a descida da bandeira, mas que se repete em ciclos — entre aplausos e silêncios — a cada vez que a pátria exige corpos, mas não cuida dos que voltam.

 

Atualmente, o filme está disponível apenas para aluguel, por R$ 6,90, na Prime Vídeo e YouTube.

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