7 de Julho: o rock reverbera entre a glória, o colapso e a eternidade
Data é uma cápsula onde o rock pulsa entre nascimento e silêncio.
Por LockDJ
Publicado em 07/07/2025 10:19 • Atualizado 07/07/2025 10:26
Música
O 7 de julho é uma espécie de espelho fragmentado onde o rock (Foto: Arte Rádio VB)

Há dias em que a história da música parece reunir acasos e epifanias num mesmo calendário. O 7 de julho é um desses casos: uma espécie de espelho fragmentado onde o rock — com todos os seus excessos, revoluções e perdas — se reflete com brilho e sombra.

 

Entre nascimentos, mortes e lançamentos históricos, a data ecoa como um compêndio das muitas camadas do gênero.

 

35 anos sem Cazuza: o poeta que viveu como um incêndio


No dia 7 de julho de 1990, Cazuza deixou o mundo aos 32 anos. Sua morte, em decorrência de complicações da AIDS, interrompeu uma trajetória marcada por intensidade e fricção com o tempo.


Cazuza não apenas cantava — ele confrontava, expondo as vísceras de uma geração com palavras que oscilavam entre o niilismo e a urgência amorosa.

Da fase com o Barão Vermelho ao voo solo, foi cronista do Brasil urbano e sentimental dos anos 1980. Em uma época em que a AIDS ainda era cercada de estigma, sua exposição pública da doença foi um ato político e humano. Seu corpo enfraquecido nos últimos clipes era também um corpo de resistência, desafiando a caretice, o conservadorismo e a indiferença.

Syd Barrett: o arquétipo do gênio desintegrado


Exatos 16 anos depois da morte de Cazuza, em 7 de julho de 2006, o rock se despedia de outro ícone singular: Syd Barrett, fundador do Pink Floyd e um dos principais artífices da psicodelia britânica.

 

Barrett foi mais do que um guitarrista e compositor: ele foi o espírito livre por trás de The Piper at the Gates of Dawn (1967), disco que inaugura a estética floydiana entre contos infantis, distorções lisérgicas e paisagens cósmicas. Seu colapso psíquico, alimentado pelo uso abusivo de LSD, o afastou da banda ainda nos anos 60, mas seu fantasma pairou sobre os discos seguintes, como Wish You Were Here — uma elegia não declarada à sua ausência.

Syd Barrett é o mito do artista que não sobrevive à própria criação. Um poeta da fragmentação, cuja influência segue presente em músicos que veem na arte não uma carreira, mas uma travessia.

De Ringo a Paul, dos LPs aos CDs

O 7 de julho também marca o nascimento de Ringo Starr (1940), o discreto e carismático baterista dos Beatles, cujo estilo contido ajudou a moldar o som da banda mais influente do século XX.


Em 1973, Paul McCartney lançava Live and Let Die, faixa-título da saga James Bond, em um gesto que selava sua transição do Fab Four para o espetáculo solo.


O mesmo dia, em 1989, assistia a uma virada de paradigma: pela primeira vez na história, a venda de CDs superava a de LPs. Um símbolo da mutação tecnológica do consumo musical — e do início do fim de uma era analógica.

Os bastidores, os excessos, as margens

A data ainda guarda episódios como o incêndio na mansão de Ozzy Osbourne (2006) e a prisão de Keith Richards em 1975 por porte de arma e direção perigosa — marcas de um rock que sempre flertou com a autodestruição e o espetáculo da transgressão.


O lançamento de Fun House pelos Stooges em 1970 também é digno de nota: um manifesto primal, cru e desgovernado que anteciparia o nascimento do punk.

 

Um dia que não se repete, mas se atualiza

 

O 7 de julho é mais do que um capítulo de efemérides: é uma cápsula onde o rock pulsa entre nascimento e silêncio. Data em que Cazuza nos lembra que o tempo não para, e Syd Barrett reforça que, às vezes, a mente vai mais longe do que o corpo consegue acompanhar.

 

Entre a energia de Fun House, a sofisticação de Live and Let Die, os discos que mudaram de formato e os nomes que se apagaram em carne mas seguem vivos em som, o rock permanece — múltiplo, errante e eterno.

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