Nesta terça-feira, dia 8 de julho, Moraes Moreira completaria 78 anos. A data convida a revisitar uma trajetória que atravessa os principais ciclos da música popular brasileira do pós-tropicalismo, marcada por uma inquietação sonora que fez de Moraes muito mais do que um ex-Novos Baianos. Ele foi, em muitas camadas, um cronista rítmico do país.
Nascido em Ituaçu, na Chapada Diamantina, Moraes Moreira fundou, ao lado de Baby Consuelo, Pepeu Gomes, Paulinho Boca de Cantor e Luiz Galvão, o grupo Novos Baianos. Com eles, participou da criação do disco Acabou Chorare, de 1972 — obra que se consolidou como um dos marcos da música brasileira, misturando samba, rock, bossa e espírito comunitário, e que ainda hoje figura como o maior álbum da MPB, segundo a Rolling Stone Brasil.
Após a fase com os Novos Baianos, Moraes seguiu uma carreira solo prolífica. Gravou 29 discos, entre trabalhos autorais e colaborações. Foi o primeiro cantor de trio elétrico, atravessando a rua com guitarra e poesia, ao lado de Dodô e Osmar. Também musicou cordéis, reinventou o frevo, cruzou o baião com solos elétricos, fez sambas com sotaque agreste e revisitou o barroco nordestino através da métrica popular.
Sua lírica transitava entre o delírio e a crítica, entre a rua e o palco. Em parcerias com Pepeu Gomes, criou hinos que permanecem nos carnavais e nas memórias. Mas também deixou poemas e livros — em 2018 lançou A História dos Novos Baianos e Outros Versos, em que a crônica e a rima costuram sua memória afetiva da música e da contracultura.
Em abril de 2020, Moraes Moreira morreu dormindo, no Rio de Janeiro, vítima de um infarto. Sua morte silenciosa contrastou com a intensidade de sua obra — múltipla, viva, em movimento.
Neste 8 de julho, lembrar Moraes é também reconhecer a liberdade que ele personificou. Na mistura de ritmos, na forma de compor, no modo de cantar e até no jeito de calar. Moraes não foi só parte de um tempo. Foi atravessado por todos eles.